sábado, 9 de novembro de 2024

MANOEL DE BARROS: O MENINO QUE CARREGAVA ÁGUA NA PENEIRA

 CRÔNICA

Conheci o menino que carregava água na peneira em 2003. Na época, eu cursava a 6ª série (atual 7º ano) do ensino fundamental na Escola Francisco de Assis Leite, em Salitre (CE). Ganhei cinco exemplares da coleção “literatura em minha casa” composta por obras de poesias, contos, novela, clássico literário e teatro.

Nas primeiras páginas da leitura de “Palavras de encantamento” (volume 1), deparei-me com Manoel de Barros que afirmou que ter “um livro sobre águas e meninos”, mas que gostou “mais de um menino que carregava água na peneira”. 

A leitura desse poema despertou minha paixão pela poesia. E dois anos depois comecei a produzir meus poemas. Assim, como Manoel de Barros, a inspiração vinha de eventos simples do cotidiano. E se Manoel “roubava um vento e saia correndo com ele para mostrar aos irmãos”, eu também aprendi a “catar espinhos na água e criar peixes no bolso”.

A criatividade do menino Manoel era evidente. Por ser “ligado em despropósitos, quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos”. Também começou a fazer peraltagens com as palavras. Modificou a tarde botando uma chuva nela e interrompeu o voo de um pássaro botando ponto no final da frase.

Manoel fazia prodígios com as palavras. Fez uma pedra dar flor! Seus poemas infantis, encantam pela simplicidade vocabular permeada de figuras de linguagens. As comparações e metáforas enriquecem a narrativa numa prosa poética leve que prende a atenção do leitor.   

Aprendi a usar as palavras também. Comecei a gostar mais do vazio do que do cheio. Percebi que, assim como Manoel de Barros, vou carregar água na peneira a vida toda, pois “o mundo que eu crio na escrita compensa o que o mundo real não me oferece e eu preciso manter o espírito de revolta vivo em mim.”


MORAIS, José Roberto. Manoel de Barros: o menino que carregava água na peneira. In Revista Sarau. vol.4. nº 11. nov/dez, 2024. (p.19) ISSN 2965.6192

MANOEL DE BARROS: O POETA PANTANEIRO

LITERATURA BRASILEIRA 


Manoel Barros nasceu

Em Cuiabá, capital

Parte da infância viveu

Na fazenda, Pantanal.

Era ali localizada

Sua casa de morada

Onde ele alegre vivia;

O menino aventureiro

Nesse solo pantaneiro

Cercado de poesia.

 

Na adolescência mudou-se

Campo Grande seu destino

Pelo sonho aventurou-se

Aquele simples menino.

Surgiu no colégio interno

Esse poeta moderno

Começou as produções;

Mergulhou fundo nos versos

Construiu mundos diversos

Com lindas composições.

 

Seus “Poemas Concebidos

Sem Pecados”, publicou

Dos amores preferidos

Com a Stella se casou.

Gerou Pedro, João e Marta

Sua produção tão farta

Foi no mundo literário;

Nos versos foi menestrel

Em Direito, bacharel

Seguiu seu itinerário.

 

Ganhou “Prêmio Jabuti”

Pela ótima produção

No mundo fora e aqui

Veio a consagração.

“O Guardador de Águas”,

Foi para sua obra frágua,

“Fazedor do Amanhecer”;

O poeta pantaneiro

Fez seu verso derradeiro

Ao ver a noite descer.


MORAIS, José Roberto. Manoel de Barros: o poeta pantaneiro. In Revista Sarau. vol.4. nº 11. nov/dez, 2024. (p. 18) ISSN 2965.6192