sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

NO SERTÃO

O SERTÃO EM VERSOS

 

Nosso dia amanheceu

A chuva caiu mais forte

As chuvas madrugadeiras

Que seguem rumo ao Norte

A babugem já nasceu

Todo chão enverdeceu

Pra o inverno, passaporte


Ouço o ronco do trator

Quando chove no sertão

Começa arando as terras

Rasgando o ventre do chão

O agricultor com a enxada

Sentindo a terra molhada

Vai fazer a plantação.


José Roberto Morais

Sítio Tanquinho, Araripe CE

31/12/2021

CHEGADA X PARTIDA

 

Nesses períodos festivos

Muitas coisas acontecem

Alguns se mantêm ativos

Outros pra vida adormecem

Alguns plantam esperança

Ficam na nossa lembrança

Nos trilhos longos da vida

Sua história marcada

A vida é a chegada

A morte é a partida


Alguns atos praticados

Pra ficarem na história

Serão sempre recordados

Nos arquivos da memória

Quem praticou só o bem

Ao partir deixa também

Uma saudade florida

No cérebro registrada

A vida é a chegada

A morte é a partida.


J R Morais

ALB 22

ACLC 09

SPA 13

St Tanquinho, Araripe CE

30/12/2021

JESUS NO NATAL

 

Há trocas nesta festa natalina

Trocaram Jesus por papai noel

Embrulharam presentes de papel

Apagando nossa estrela divina

A luz que brilha não é cristalina

A festa tornou-se comercial

Esquecem o motivo principal

E quando perceberem já é pó

Eu não quero noel e nem trenó

Eu prefiro Jesus no meu Natal.


Glosa: José Roberto Morais

Mote: Antônio Poeta

St Tanquinho, Araripe CE

24/12/2021

AÇÕES PEDAGÓGICAS NO CETI


Peço-lhes sua licença

E minutos de atenção

Pois irei falar um pouco

Numa breve narração

Sobre eventos pedagógicos

Que são postos em ação


Encontros com a família

Às mulheres, homenagem

Os poemas para mães

As paródias e mensagens

Gincana do Gonzagão

Na cultura, uma viagem


Avaliação diagnóstica

Dos nossos conhecimentos

Em todos os componentes

Em diferentes momentos

Fizemos a busca ativa

Com ações de acolhimento


Inscrições para o ENEM

Seguidas pelos aulões

Nas chamadas pela Rádio

Houve participações

Alunos protagonistas

Desenvolvendo ações


Nas manhãs de sexta-feira

Os encontros virtuais

Com enfermeiros, psicólogos

E outros profissionais

Ressaltando a importância

Das relações pessoais


De material impresso

Feita distribuição

Para alunos sem acesso

Fazer participação

Das ações desenvolvidas

Em prol da Educação


Em outubro homenagem

Professora e professor

Mensagens foram gravadas

A cada um educador

E outros profissionais

No dia do servidor


A missa em ação de graças

Também pode acontecer

Destinada aos concludentes

Que venham comparecer

Neste ano já planejando

Esperamos por você.


José Roberto Morais 

Professor

Fronteiras PI, 22/10/2021

quinta-feira, 29 de julho de 2021

CIDADE PORTAL DO CARIRI – CAMPOS SALES

122 ANOS DE EMANCIPAÇÃO POLÍTICA

“Campos Sales é a cidade portal do Cariri”. Assim ressaltou o professor, poeta e escritor, Mariano Carvalho, ao escrever a letra do hino dessa cidade. A mesma é considerada o portal do Cariri ao permitir o acesso dos viajantes que vierem do Piauí com destino a terra outrora habitada pelos índios Kariris. Permite também o acesso ao centro sul do estado do Ceará, e no sentido contrário, o caminho aos viajantes que buscam seguir o destino rumo ao estado do Pernambuco.

Essa cidade hospitaleira, desde as suas origens nos idos dos séculos XIX e XX, homenageia em seu nome, um dos políticos reconhecidos da República brasileira. Mas já fora nomeada Várzea das Vacas e Nova Roma em tempos passados. É o lar onde descansa a Heroína Bárbara de Alencar, no distrito Itaguá. Além disso, foi o habitat de homens reconhecidos no sul cearense, como o Coronel Baleco, na fazenda Cabeceira e o Barão de Aquiraz, Gonçalo Batista Vieira.

Há aspectos curiosos nas nomenclaturas dos bairros campossalenses que permanecem ocultos na História local. Que dizer da “Praça do O” ser um espaço retangular ou praticamente quadrada. Esse local que há 10 anos era totalmente diferente, com árvores antigas e altas na estética natural, e bancos de cimentos na arquitetura artificial. Árvores que sombreavam os bancos onde as pessoas paravam e sentavam para prosear. Esses bancos que guardaram segredos amorosos, pois serviam de encontros dos enamorados que se permitiam apaixonarem-se ao som das serenatas dos pássaros que ali habitavam.

Outra nomenclatura curiosa relaciona ao bairro Batalhão que não abriga destacamento policial, seja cadeia ou delegacia. Mas há quem afirme que antes de ser bairro, esse local fora utilizado pelos guerrilheiros que se organizavam ali para a batalha contra a coluna Prestes. Essa equipe de guerrilheiros até fora informada que receberia o reforço de um grupo de cangaceiros liderados por Virgulino Ferreira, o Lampião, mas o grupo dos destemidos que habitavam a caatinga nordestina, desistira da participação na luta que não ocorrera porque a coluna Prestes desviou seu caminho pela vilarejo fundado pelo padre Ibiapina (Pio IX – PI) e não passou aqui no Cariri Oeste como previra os guerrilheiros.

Que dizer então do bairro Guarani, que recebe nome de uma das maiores tribos indígenas brasileiras, mas que não habitaram nessa região que era território dos povos Kariris. Ou o que falar sobre a Praça da Farinha, onde não se comercializa apenas farinha, mas também fécula de mandioca (goma), feijão, fava e milho.

Essa cidade que já teve parte de sua História registrada, em prosa e versos, é um berço cultural. Os maiores festivais juninos aconteceram e acontecem na praça em frente ao templo católico, assim como os festivais religiosos e musicais com artistas locais e nacionais que reunem multidões. Há destaque também na cultura popular, com poetas repentistas, cordelistas, escritores e fotógrafos que registram a história e o cotidiano de nossa gente. Assim, Campos Sales que já fora Pousada de viajantes, fazenda de gado; possui algumas nomenclaturas curiosas e permanece uma terra hospitaleira. Além disso, é um berço cultural na nossa região do Cariri Oeste e, indubitavelmente, é a cidade portal do Cariri.

 

José Roberto Morais

Sociedade dos Poetas de Araripe – SPA

(Cadeira nº 13)

Academia de Letras do Brasil – ALB /Seccional/Regional/Araripe (Cadeira nº 22)

CIDADE PORTAL DO CARIRI

Campos Sales, a cidade

É Portal do Cariri

Pousada dos viajantes

Que iam ao Piauí

 

Já foi Várzea das Vacas

De Nova Roma chamada

Já foi fazenda de gado

Era trilho de jornada

 

Aqui jaz a Heroína

Grande Bárbara de Alencar

Fez seu repouso eterno

No distrito Itaguá

 

Abrigo do coronel

O Barão de Aquiraz

Gonçalo Batista Vieira

Ele foi homem sagaz

 

Já o Coronel Baleco

Na fazenda Cabeceira

Fez política autoritária

Seguindo sua carreira

 

Campos Sales é destaque

Na cultura regional

E no mês de junho faz

Um enorme festival

 

Um destaque cultural

Também na religião

Com eventos conhecidos

Por toda população

 

Destaque na educação

Há nomes a destacar

Vou citar nesse quesito

Maria Dulce de Alencar

 

A maioria do seu povo

Produz o seu alimento

Na agricultura e comércio

Garantindo o seu sustento

 

Território acolhedor

Diversos os seus retratos

Sua História é extensa

Trouxe apenas alguns fatos.

 

José Roberto Morais

Sociedade dos Poetas de Araripe – SPA (Cadeira nº 13)

Academia de Letras do Brasil – ALB /Seccional/Regional/Araripe (Cadeira nº 22)

 

segunda-feira, 26 de julho de 2021

SOU NORDESTINO

 Fui criado no roçado

Plantei milho e mandioca

Comi muita tapioca

Amansei burro em arado

No curral juntei o gado

Amarrei boi em mourão

Usei perneira e jibão

Era moleque traquino

Eu também sou nordestino

Do jeito que vocês são

 

Vi a lua aparecendo

Quando cedo escureceu

A noite logo desceu

Mas estrela não tô vendo

O frio já vem correndo

Lua traz inspiração

Sento no alpendre do oitão

Vou cumprindo meu destino

Eu também sou nordestino

Do jeito que vocês são.

 

José Roberto Morais

Mote: Valdir Teles & Zé Viola

 

Sítio Tanquinho, 23/julho/2021

terça-feira, 20 de julho de 2021

SONHOS

 

Era uma mulher tão bela

Vi seu rostinho moreno

Sorrindo pela janela

Seus lindos lábios serenos

Um sorriso encantador

Cativou o meu amor

Foi ela a mulher que amei

Ela estava apaixonada

Saímos na madrugada

Enquanto dormi, sonhei

 

Sua beleza infinita

Não consigo descrever

Mulher esbelta e bonita

Meus olhos sonham rever

Nosso encontro no mercado

Aquele abraço apertado

Todas vezes que a beijei

Eu registrei na memória

Escrevendo nossa estória

De repente me acordei.

 

José Roberto Morais

St Tanquinho, 20/07/2021

ENCONTRO INESPERADO

 

Um encontro inesperado

Na CPU registrei

Pois não estava agendado

Porém não esquecerei

Um momento tão preciso

Aquele lindo sorriso

Cativou minha atenção

No cérebro registrado

Meu amor encarcerado

Nas grades do coração

 

Numa noite de luar

Quando eu a conheci

Ela veio me falar

Ao chegar eu percebi

No seu olhar um encanto

Feitiço tem no seu canto

Eu senti sua emoção

Um encontro inesperado

Meu amor encarcerado

Nas grades do coração.

 

José Roberto Morais

St Tanquinho, 11/07/2021

CANÇÃO DE DOMINGO

 

Ja é manhã de domingo

Lembrei 30 de dezembro

O tempo passou tão rápido

Mas agora eu relembro

 

Depois daquele setembro

Um encontro inesperado

Nossas estrelas se cruzam

Sem ser o dia marcado

 

No calendário riscado

Por ser domingo à tardinha

No rádio nossa canção

Renovou o amor que tinha

 

E mais um novo ano vinha

Pra trazer felicidade

Nessa Canção de domingo

Um resgate da saudade.

 

José Roberto Morais

St Tanquinho, 11/07/2021

quarta-feira, 26 de maio de 2021

A CASA DA SAUDADE

Reviver o passado através de recordações é algo comum ao poeta. Este costuma relatar, em versos ou crônicas, momentos que foram marcantes na sua vida. Nesta cronicazinha, relembro os dias vividos na casa de meu avô.

A casa que vovô morou, situada no Sítio Tanquinho, zona rural de Araripe-CE, é uma relíquia de momentos históricos familiares. A casa era enorme. Tinha na frente um alpendre. Ao entrar, seguia-se a varanda (sala de estar), ladeada pelos quartos, o corredor, a sala de jantar e a cozinha separadamente. A chegada à sala de jantar é marcada por uma miniescada devido às irregularidades do terreno.

Na varanda havia uma mesa rodeada por algumas cadeiras, os quadros de “santos” na parede, tornos para armar as redes, duas janelas que davam uma claridade ao ambiente receptativo da casa (uma na frente e outra no lado do leste) e o quarto ao oeste. Este quarto da varanda servia apenas para guardar as ferramentas de trabalho (enxadas, enxadecos, foices, machados, cavadeiras, cavadores, facões, ciscadores, braças...). Seguindo pelo corredor, havia dois quartos (o aposento de vovô ao leste e dos hóspedes ao oeste). Depois, chegava-se à sala onde estava a mesa de jantar, o armário na parede, uma janela para o ‘poente” e um quarto ao leste. Nesse quarto ficavam os equipamentos de vaquejar o gado (gibão, perneiras, selas, cabeçadas, botas, chocalhos, cordas, cabrestos...). Após a sala, havia separadamente a cozinha com um fogãozinho a lenha, o guarda louças e uma mesinha, além do pé-de-panelas e um quartinho de despensa.

Para alcançar o alpendre, tínhamos que subir os degraus nos lados ou na frente. No alpendre ficava o banco de madeira onde brincávamos damas e sentávamos para contar os carros que passavam na pista (rodovia) que fica cerca de 500 m distante ou atirar pedras com uma baladeira (estilingue) nos viajantes que passavam na estrada.     

Lembro-me que na infância quando morávamos com vovô durante os meses de outubro, novembro e dezembro – período em que a família vinha morar no tanquinho por falta d’água na serra – eu, então pequeno, ia todos os dias ao quarto de vovô mostrá-lo meus cavalos-de-pau. Depois saia e ia brincar com meu primo na casa vizinha, ao oeste. Brincávamos de bila, carrinho, boi, bola, esconde-esconde, policial e bandido etc.

Hoje moramos em frente à casa de vovô. Por isso, há momentos que ao sentar e observar a casa que morei na infância, sinto uma saudade daqueles dias em que os momentos de brincadeiras eram a única ocupação durante o dia na casa de vovô. E à noite, a novela “Chiquititas” nos entretia antes de irmos dormir para sonharmos com novas travessuras para o dia vindouro na casa de vovô, que se tornou a Casa da Saudade.

José Roberto, ALB22/SPA13

segunda-feira, 19 de abril de 2021

LONG LIFE TO THE KING

 Ao cantor Roberto Carlos


Nesta data especial

Pra música brasileira

Seguindo sua carreira

No cenário musical

Destaque nacional

Hoje aniversariando

A MPB festejando

Com toda sociedade

80 anos de idade

O Rei está completando.

 

Nasceu no Espírito Santo

O cantor e Rei Roberto

Pra música foi descoberto

Libertou logo seu canto

Cantando alegria e pranto

Seus sucessos divulgando

A parceria formando

Com Erasmo em Amizade

80 anos de idade

O Rei está completando.

 

José Roberto

Sítio Tanquinho, Araripe CE

19 de abril de 2021

quinta-feira, 1 de abril de 2021

PAISAGEM DO INTERIOR

O SERTÃO EM VERSOS


 Eu vejo um velho jumento

Passar puxando a carroça

Um homem sair pra roça

Levando seu instrumento

No saco seu alimento

Pra comer pós o labor

E quando sente calor

Um gole d’água é bebido

Isso é cagado e cuspido

Paisagem do interior

 

Escuto o nambu cantar

No cercado da fazenda

Um retirante faz tenda

Para poder se abrigar

Ouço um tiro disparar

Deve ser um caçador

Um vaqueiro aboiador

Sua missão tem cumprido

Isso é cagado e cuspido

Paisagem do interior.

 

Glosas: José Roberto

Mote: Jessier Quirino

Sítio Tanquinho, 01/abril/2021 

segunda-feira, 15 de março de 2021

EM TUDO HÁ POESIA

Olhos veem, ela sente

Na natureza aparece

Está lá no sol nascente

Assim que o dia amanhece

Na chuva que molha o chão

Nos animais do sertão

Na noite que se inicia

No canto do Sabiá

No amor ela sempre está

Em tudo há poesia


Na dor de perder alguém

No choro de uma saudade

No ronco do grande trem

Nos parques de uma cidade

Na roça de plantação

Nas cordas do violão

Música que contagia

No sorriso da criança

Na vida, sonho, esperança

Em tudo há poesia.


José Roberto, 

14/03/2021

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

A LIVRARIA

 

A CRÔNICA

Leitores que buscam informações as mais diversas. Títulos relacionados ao socialismo; ciências; histórias da humanidade; religião; as diversas ceitas existentes no mundo... etc... etc... sem contar com as raridades dos “sebos” (esses buscados pelos leitores que necessitam de profundidade).

Deve-se entrar nas livrarias como num templo.

Lugar de respeito. Silêncio; meditação. Não é um simples comércio. É um local sagrado, onde vêm se beber de conhecimentos e digerir informações as mais raras e diversificadas.

É também a teimosia persistente de um ideal.

Livro não é para ser manufaturado. É uma história de leitura e leitores, repleto de personagens que têm a simples determinação de fazerem ideias circularem. É abnegação anacrônica de selecionar com paciência e amor. Há da parte do leitor uma certa nostalgia e uma mística da busca daquele livro difícil ou mesmo na tentativa de decifrar a lógica de classificação existente nas diversas livrarias espalhadas ao redor do mundo.

Atreladas as Livrarias estão as Bibliotecas; alimentando desejos e fantasias. Quando o leitor tem domínio de sua história, ele mistura com mão segura as reportagens; o enredo; as diversas literaturas e buscam também um guia eficiente que lhes oriente na condução dos livros solicitados.

As Bibliotecas estão a um passo atrás olhando sempre o passado; enquanto as Livrarias estão ligadas a essência do presente; sofrendo com elas; mas também entusiasmando pelo vício das mudanças.

Para o leitor experiente na arte da leitura, assistir a morte de uma Biblioteca é penoso... equivale a presenciar uma tragédia de proporções épicas. A morte de uma Livraria; é uma punhalada no peito de cada um de seus frequentadores. 

As Livrarias atendem a requisitos de três pontos principais: a antiguidade; extensão e ligações frequentes com a vida literária; essa carregando originais fantasmas que dão “alvará” simbólico a toda uma existência dedicada as leituras e as suas variedades.

Quanta saudade pela perda da LIVRARIA CULTURA em Fortaleza-CE! Lá nos abrigava da cretinice; do obscurantismo ameaçador e nos conduzia a sobrevivência originais dos diversos volumes de suas prateleiras. Bibliotecas e Livrarias estão faltando aos seus frequentadores. É uma danosa injustiça! É uma perda irreparável!..

 

Ionete Pereira. Professora. 

Araripe-CE

 

PEREIRA, Ionete. A livraria. A Crônica. In Confraria: encontro de amigos. Ano VII. Nº 209. Distribuição Gratuita - on line. Editor: Francisco Adriano de Sousa. Araripe - CE, 10 de fevereiro de 2021. 

sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

OS JORNAIS

 

RUBEM BRAGA

Meu amigo lança fora, alegremente, o jornal que está lendo e diz:

— Chega! Houve um desastre de trem na França, um acidente de mina na Inglaterra, um surto de peste na índia. Você acredita nisso que os jornais dizem? Será o mundo assim, uma bola confusa, onde acontecem unicamente desastres e desgraças? Não! Os jornais é que falsificam a imagem do mundo. Veja por exemplo aqui: em um subúrbio, um sapateiro matou a mulher que o traía. Eu não afirmo que isso seja mentira. Mas acontece que o jornal escolhe os fatos que noticia. O jornal quer fatos que sejam notícias, que tenham conteúdo jornalístico. Vejamos a história desse crime. “Durante os três primeiros anos o casal viveu imensamente feliz…” Você sabia disso? O jornal nunca publica uma nota assim:

“Anteontem, cerca de 21 horas, na rua Ar-linda, no Méier, o sapateiro Augusto Ramos, de 28 anos, casado com a senhora Deolinda Brito Ramos, de 23 anos de idade, aproveitou-se de um momento em que sua consorte erguia os braços para segurar uma lâmpada para abraçá-la alegremente, dando-lhe beijos na garganta e na face, culminando em um beijo na orelha esquerda. Em vista disso, a senhora em questão voltou-se para o seu marido, beijando-o longamente na boca e murmurando as seguintes palavras: “Meu amor”, ao que ele retorquiu: “Deolinda”. Na manhã seguinte, Augusto Ramos foi visto saindo de sua residência às 7:45 da manhã, isto é, dez minutos mais tarde do que o habitual, pois se demorou, a pedido de sua esposa, para consertar a gaiola de um canário-da-terra de propriedade do casal.”

A impressão que a gente tem, lendo os jornais — continuou meu amigo — é que “lar” é um local destinado principalmente à prática de “uxoricídio”. E dos bares, nem se fala. Imagine isto:

“Ontem, cerca de 10 horas da noite, o indivíduo Ananias Fonseca, de 28 anos, pedreiro, residente à rua Chiquinha, sem número, no Encantado, entrou no bar “Flor Mineira”, à rua Cruzeiro, 524, em companhia de seu colega Pedro Amâncio de Araújo, residente no mesmo endereço. Ambos entregaram-se a fartas libações alcoólicas e já se dispunham a deixar o botequim quando apareceu Joca de tal, de residência ignorada, antigo conhecido dos dois pedreiros, e que também estava visivelmente alcoolizado. Dirigindo-se aos dois amigos, Joca manifestou desejo de sentar-se à sua mesa, no que foi atendido. Passou então a pedir rodadas de conhaque, sendo servido pelo empregado do botequim, Joaquim Nunes. Depois de várias rodadas, Joca declarou que pagaria toda a despesa. Ananias e Pedro protestaram, alegando que eles já estavam na mesa antes. Joca, entretanto, insistiu, seguindo-se uma disputa entre os três homens, que terminou com a intervenção do referido empregado, que aceitou a nota que Joca lhe estendia. No momento em que trouxe o troco, o garçom recebeu uma boa gorjeta, pelo que ficou contentíssimo, o mesmo acontecendo aos três amigos que se retiraram do bar alegremente, cantarolando sambas. Reina a maior paz no subúrbio do Encantado, e a noite foi bastante fresca, tendo dona Maria, sogra do comerciário Adalberto Ferreira, residente à rua Benedito, 14, senhora que sempre foi muito friorenta, chegado a puxar o cobertor, tendo depois sonhado que seu netinho lhe oferecia um pedaço de goiabada.”

E meu amigo:

— Se um repórter redigir essas duas notas e levá-las a um secretário de redação, será chamado de louco. Porque os jornais noticiam tudo, tudo, menos uma coisa tão banal de que ninguém se lembra: a vida…

 

BRAGA, Rubem (1913-1990). 200 crônicas escolhidas. - 21ª ed. - Rio de Janeiro, Record, 2004. (p. 148-149)

 

segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

AS FOTOGRAFIAS DE P...

 

Abro um livro para leitura e encontro duas fotos de P... Ela foi a garota com quem vivi momentos inesquecíveis na adolescência. Ao observar as fotos que me dera naquela visita inesperada na noite junina, relembro momentos de sublime ternura e carinho que compartilhamos esquecidos do tic-tac do relógio costumeiro, inimigo do amor.

Olhando a fotografia 01, leio a dedicatória que escrevera no verso: “No baile da vida, desejo que a felicidade seja sempre seu par”. Observo o sorriso encantador e lembro que fora minha felicidade ao longo de 18 meses. Relembro as idas e vindas de cartas que aguardávamos ansiosamente... cartas que me escrevera e ilustrara com corações, representantes de um amor inocente, sem ciúmes ou chantagens emocionais... os passeios na Cyclone... as crenças na influência astrológica sobre nosso amor... os planos arquitetados de ternura e carinho para futuro compartilhado...

Observo seu vestido vermelho na fotografia 02, e lembro do nosso primeiro encontro naquela noite festiva quando decidira ser “meu par”. Abraçados caminhamos sentindo o frio contra nossas faces enamoradas que foram se aquecendo no calor emanado do amor que brotara nos corações imaturos. A cada passo que aproximara o fim do momento, desejara caminhar em retorno para prolongar aquele momento. Recordo também outro encontro quando me dera as fotos, mas que se tornara nosso último encontro de carinho compartilhado... pois, o tempo inimigo do amor, mas que cura as feridas deixadas, nos afastou...      

 

segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

PERSONAGENS BÍBLICOS

 CONHECENDO A BÍBLIA SAGRADA


Adão lá no Paraíso

Vivia com sua amada

Pela serpente enganada

Eva perdeu seu sorriso

Abandonar foi preciso

Um lar repleto de amor

Distante do Criador

A família amargurada

Por ler a Bíblia Sagrada

Me tornei conhecedor

 

José filho de Jacó

Pelos irmãos foi vendido

No Egito desconhecido

Sentiu-se tão triste e só

Mas ele emergiu do pó

Ao ser fiel ao Senhor

Tornou-se governador

Transformou sua jornada

Por ler a Bíblia Sagrada

Me tornei conhecedor.

 

Glosa: José Roberto

Mote: Matuto Izaias Moura