quarta-feira, 26 de julho de 2023

RECORDANDO O PASSADO

 RESENHA

Recordar é viver. Eis que revivi meu passado ao ler o livro do meu amigo e escritor santanense, Sandro Cidrão.

O livro “Revivendo o passado – memórias” foi publicado em 2016 pela editora Control P Soluções Gráficas em Crato – CE. Essa obra literária composta por crônicas narrativas foi diagramada por Manoel Neto, com revisão dos escritores Elisabeth Antão e Geraldo Ananias. A idealização e concepção de capa foi da universitária Ana Elís Cidrão (filha do autor) enquanto o designer ficou por conta de Janaína T Morais.

A apresentação e o prefácio dessas crônicas foram escritos, respectivamente, por Elisabeth Antão e Geraldo Ananias. O escritor santanense dedicou essa obra literária em memória de sua mãe, Maria da Silva Cidrão.

O texto é composto por recordações dos fatos vivenciados pelo autor, seguindo uma ordem cronológica. Apresenta textos com temáticas religiosas como graças alcançadas, primeira comunhão, a renovação dos santos, Noite de Natal e Papai Noel, as coroações Marianas. Narra também fatos cotidianos como mudanças de casa, viagem à feira e a capital, desfiles de 07 de setembro, primeiro dia de aula, aprovação no vestibular, lida na roça, visitas aos amigos, cantores favoritos... fatos históricos como o nascimento do irmão caçula, a formatura, a doença da esposa, a amizade com pessoas de outras cidades... Registra-se também as curiosidades infantis, a valorização dos pequenos atos. Para abrilhantar ainda mais esse trabalho literário, eis que há uma canção “Caçador de mim” de Milton Nascimento e o posfácio escrito por Ana Elís Cidrão. Além disso, cada capítulo inicia-se com uma breve citação de escritores diversos sobre o assunto abordado pela crônica.

Eis uma leitura interessante para aqueles que viveram fatos semelhantes e podem revivê-los ao ler essas recordações; e para as gerações modernas, possibilitando-lhes conhecer traços culturais que estão sendo esquecidos pela sociedade.      


MORAIS, José Roberto. Fantástico Mundo da Leitura. José Roberto Morais. Pará de Minas, MG: VirtualBooks Editora, Publicação 2022. E-book formato PDF (p.44-45)   



sábado, 22 de julho de 2023

AMBIENTE BUCÓLICO

 CRÔNICA

Os ambientes bucólicos foram as preferências dos poetas árcades para exaltar a natureza, cantar os amores entre pastores e musas, enaltecer a vida bucólica. Os poetas arcadistas estavam sempre em busca pelos valores da Natureza, fazia muitas referências a terra e ao mundo natural. Costumavam escrever sobre as belezas do campo, a tranquilidade que era proporcionada pela natureza e contemplavam a vida simples, o encontro com a natureza que purificam as almas com os ares leves do campo, desprezando a vida nos grandes centros urbanos. Sempre utilizando uma linguagem simples, sugerindo que se aproveite o momento.

O sítio Tanquinho também apresenta seus ambientes bucólicos, um contato com a natureza, o canto dos pássaros poetas da natureza e os refrãos da orquestra anfíbia que fez habitat nesse ecossistema sertanejo.

O açude público do Tanquinho é um desses ambientes bucólicos que inspiram os poetas. A presença constante de diversas espécies de aves aquáticas que nadam e mergulham nas águas cristalinas; as árvores que o rodeiam que servem de palcos onde os seresteiros do sertão cantam e encantam numa diversidade de sons, assobios...      

Entre as árvores que servem de palco aos seresteiros das florestas, destacam-se os juazeiros e as juremas, árvores típicas do sertão.

Ao lado da casa minha

Há um grande juazeiro

Um sabiá faz poleiro

Bem-te-vi, gola, rolinha

Até mesmo uma andorinha

Tem cantado seu refrão

É grande a animação

E diversos são os temas

Juazeiros e juremas

Árvores do meu sertão.

 

Quando começa chover

O galo campina canta

O seu canto nos encanta

Logo ao dia amanhecer

A chuva fará nascer

Nossa linda plantação

Depois de longo verão

As chuvas não são problemas

Juazeiros e juremas

Árvores do meu sertão.

 

O poeta, em momentos de sublime leveza e naturalidade, verseja sobre esses recursos naturais que embelezam o contato com a natureza, os ambientes bucólicos.


José Roberto Morais

quarta-feira, 19 de julho de 2023

O MESTRE DO TERROR E MISTÉRIOS

RESENHA 

Uma leitura fascinante e prazerosa que prende a atenção do leitor do início ao final da narrativa é presente na obra do americano Edgar Allan Poe.

Edgar Allan Poe foi um autor, poeta, editor e crítico literário que participou do movimento romântico americano. Ele é considerado o inventou do gênero ficção de detetive. Tentou viver escrevendo e isso resultou numa carreira e vida dificultosa.

Poe ingressou na universidade e estudou francês, espanhol, italiano, latim e grego. Ele iniciou suas produções literárias com Tamerlane and Other Poems (Tamerlão e outros poemas) em 1827. Sua segunda publicação de poesias foi Al Aaraaf, Tamerlão e Poesias Menores. Em 1831 publicou Poemas, mas a sua produção fantástica de contos que o tornou conhecido iniciou em 1833 ao ganhar um prêmio com Manuscrito Encontrado numa Garrafa. A partir dessa, vieram os contos que se tornaram conhecidos também no mundo do cinema através de adaptações e produções recheadas pelos efeitos visuais.

O livro Histórias Extraordinárias apresenta contos como A Queda da Casa de Usher e Contos do Grotesco e de Arabesco, Os Crimes da Rua Morgue, O Escaravelho de Ouro, O Gato Preto, O Poço e o Pendulo, Eleonora, Berenice, O Mistério de Maria Rogêt, O Coração Delator, Um conto das Montanhas Escabrosas, O Demônio da Impulsividade, A Máscara da Morte Vermelha, O Retrato Oval, Willian Wilson e outros contos.

O mistério e o terror estão presentes nesses contos sempre narrados por uma personagem. Essas narrativas em 1ª pessoa prende a atenção do leitor ao colocá-lo como participante da história numa linguagem macabra e melancólica que aborda como temas correntes a morte, a loucura e a decomposição dos corpos. Essas narrativas sempre acontecem em ambientes escuros, com descrições fantásticas de nuvens negras, quartos abandonados, subsolo com esgoto e ratos etc.

Ao falecer aos 40 anos, Edgar Poe deixou uma vastíssima obra de poemas e contos em que o mistério e o terror são características relevantes que levam o leitor a viagens inimagináveis que vasculham a mente humana destacando o medo, a maldade, os transtornos mentais e as atitudes inesperadas de almas que habitam ambientes grotescos e macabros.


MORAIS, José Roberto. Fantástico Mundo da Leitura. José Roberto Morais. Pará de Minas, MG: VirtualBooks Editora, Publicação 2022. E-book formato PDF (p.19-20)

sexta-feira, 14 de julho de 2023

RETIRANTES NORDESTINOS

RESENHA

Uma família de retirantes nordestinos, formada pelo vaqueiro Fabiano, a sinhá Vitória e dois meninos compõem a narrativa “Vidas Secas” de Graciliano Ramos.

O livro que retrata o sertão castigado pela seca avassaladora, apresenta uma família que habita em terras nordestinas, que são transformados em retirantes.

Fabiano é um vaqueiro que perambulando pelo sertão seco encontra uma fazenda abandonada e decide fixar residência nesse ambiente. Ao chover, o dono da fazenda chega com o gado e ordena a saída do hóspede, mas esse oferece seus serviços de vaqueiro para poder ficar morando na casa.

Sinhá Vitória é a esposa do vaqueiro que vive acompanhando o marido nessa vida venturosa e sofrida. O seu desejo principal é ter uma cama para descansar à noite, após a lida no campo.

Os meninos não possuem nomes. São identificados apenas por menino mais velho e menino mais novo. O mais velho é castigado ao tentar saber o significado de algumas palavras que ouviu. O mais novo gosta de observar a vida do pai e repetir gestos que ele considera heroicos. Isso leva a sofrer algumas quedas ao tentar cavalgar um bezerro.

A cachorra Baleia é humanizada na obra. Apresenta atitudes, reações e até pensamentos. Porém, sofre um final trágico ao estar doente e sofrer um disparo de espingarda pelo dono, que a vitimiza.

O livro é composto por treze capítulos, independentes cronologicamente, em que a ausência de diálogos é notória. Afinal, o vaqueiro Fabiano não se considera gente, mas um bicho. Prevalece ao longo da narrativa, a descrição de gestos motivados pelo ambiente físico onde estão os personagens.

Cada capítulo apresenta um conflito ou descreve um personagem. Resultando em uma narrativa longa formada a partir de narrativas menores. Essas narrativas são intituladas, respectivamente, assim: mudança - relata a chegada da família à fazenda onde decidem ficar; Fabiano - é apresentado destacando suas características; cadeia - relata o episódio em que Fabiano foi preso na cidade ao envolver-se em jogos; Sinhá Vitória - destaca a dona de casa com seus desejos; o menino mais novo - narra as aventuras do garoto que admira o pai; o menino mais velho - destaca as curiosidades do garoto que deseja conhecer o significado das palavras; inverno - retrata a chegada das chuvas no sertão que traz alegria e esperança a família do vaqueiro; festa - é uma narrativa da participação da família na festividade religiosa; Baleia - relata as atividades realizadas pela cachorra, a caça aos preás e sua morte; contas -  apresenta a divergência entre as somas de sinhá Vitória e do patrão de Fabiano que resulta em discussão; soldado amarelo -  apresenta o reencontro de Fabiano com o soldado que o prendera na cidade; mundo coberto de penas - mostra a dificuldade da caça e o início de nova seca; e fuga, - finalmente, narra a última aventura da família que segue sem destino pela estrada durante a madrugada, ainda sonhando com dias melhores. 

Essa narrativa apresenta o retrato fidedigno do sertão. Um ambiente seco que determina as atitudes dos personagens que vivem suas vidas secas como retirantes nordestinos. 


MORAIS, José Roberto. Fantástico Mundo da Leitura. José Roberto Morais. Pará de Minas, MG: VirtualBooks Editora, Publicação 2022. E-book formato PDF(p.42-44)          

quarta-feira, 12 de julho de 2023

UM AMOR BUCÓLICO

RESENHA

O amor bucólico foi um dos principais temas abordado pelos poetas árcades. A preferência pelo campo como lugar ameno para celebrar o amor, foi a escolha dos poetas que abandonaram a cidade (fugere urbem) para viver os amores do campo. Os poetas tornaram-se pastores e suas musas, pastoras.

Nesse contexto campestre, onde os pássaros, ventos, flores, rios impulsionam o amor entre os amantes, surge a mais representativa obra do arcadismo brasileiro: Marília de Dirceu do poeta Tomás Antônio Gonzaga. Dirceu era o pseudônimo de Gonzaga que fora noivo de Maria Doroteia, Marília.  

Impossibilitado de viver seu amor com a moça, por ser quarenta anos mais velho que ela, Gonzaga dedicou-lhe suas liras amorosas não intituladas, apenas numeradas em algarismos romanos. Essas liras são caracterizadas pelo amor platônico e bucólico nutrido pelo pastor de ovelhas e dedicadas a sua amante. O pastor sofre por causa da ausência da amada que não o acompanha nos passeios no campo.

 

“Acaso são estes os sítios formosos

Aonde passava os anos gostosos?

São estes os prados aonde brincava,

Enquanto passava o gordo rebanho...”

 

A separação do casal forçada pelos pais da moça impossibilita ambos de viver esse amor, porém o desejo de estar com amada é tão intenso, que ele questiona se após a morte surgirá a sorte de serem enterrados na mesma terra.

 

“Depois de nos ferir a mão da morte,

Ou seja neste monte, ou noutra serra,

Nossos corpos terão, terão a sorte

De consumir os dois a mesma terra”

 

A beleza de Marília encanta Dirceu. Ele a compara com elementos sagrados e naturais.

 

“Os teus olhos espalham luz divina,

A quem a luz do Sol em vão se atreve:

Papoula, ou rosa delicada, e fina,

Te cobre as faces, que são cor de neve.

Os teus cabelos são uns fios d’ouro;

Teu lindo corpo bálsamos vapora.

Ah! Não, não fez o Céu, gentil Pastora,

Para glória de Amor igual tesouro.”

 

Ao descrever a beleza de sua amada, Dirceu observa os detalhes angelicais de sua querida Pastora. As metáforas são utilizadas para enriquecer a linguagem e elevar a beleza que emana do seu ser; simbolizada pela simplicidade da rosa e jasmim, contrastando com a preciosidade do rubi e do marfim.

 

“Na sua face mimosa,

Marília, estão misturadas

Purpúreas folhas de rosa,

Brancas folhas de jasmim.

Dos rubis mais preciosos

Os seus beiços são formados;

Os seus dentes delicados

São pedaços de marfim.”

 

Poder-se-ia citar inúmeras estrofes e comentá-las para o leitor, porém esse não é o objetivo desse texto, pois pretende-se apenas apresentar um amor bucólico cantado pelo pastor Dirceu dedicado à sua amada Marília. Além disso, ressalta-se que essa obra é uma das mais relevantes da literatura nacional.


MORAIS, José Roberto. Fantástico Mundo da Leitura. José Roberto Morais. Pará de Minas, MG: VirtualBooks Editora, Publicação 2022. E-book formato PDF (p.26-28)

segunda-feira, 10 de julho de 2023

SOU FILHO DA TERRA SECA

 RESENHA

Em novembro de 2016, li minha história de vida narrada pela prosa poética de Deusimar Rodrigues, em “O Filho da Terra Seca: o começo da jornada”. Esse romance do escritor araripense fora publicado pela editora virtualbooks (2016), sendo o primeiro romance a ser publicado no município, visto que as outras obras publicadas são, a maioria, do gênero poema intercalando com pesquisas históricas e biográficas.

Deusimar Rodrigues apresenta em seu romance, com características autobiográficas, a vida de um garoto roceiro que vive enfrentando as dificuldades ocasionadas pela terra seca onde habita. O romancista relata a origem do menino “filho da poeira desses sertões do Araripe e que carrega esculpido no corpo as marcas da enxada acunhada em cabo de frejorge, foice amolada na pedra bruta e machado tosco que enrijecem os músculos”. Retrata o dia a dia na roça desde a busca às vacas para tirar o leite, preparação da terra para o plantio até a colheita; as aventuras do menino sertanejo que arma arapucas para prender passarinhos que servem de alimentos; a seca ameaçadora que castiga o sertanejo levando a alimentar-se precariamente com rapadura e amendoim na merenda; as chuvas que chegam para festividade do sertanejo; as travessuras e os castigos disciplinadores.

O escritor utiliza uma linguagem simples, informal e acessível que facilita a leitura para pessoas que aprenderam a decifrar os códigos da língua portuguesa. Apresenta também vocábulos típicos do sertanejo que, usando cipós, constrói e arma arapucas; coloca cangalhas nos burros para buscar água, mandioca ou lenha; carrega feixe de lenha nos ombros para queimar no fogão preparando a comida; utiliza embiras para fazer caçoar; toma café do bule; usa capangas e espingardas para caçar; tange as vacas ao curral para tirar leite de manhã etc.

Eis uma obra de “leitura atrativa que relata a vida sertaneja, que é como palavra de amor, todos escrevem a mesma história sem em nada serem repetitivos”, destaca o escritor Adriano Sousa ao prefaciar a obra.  


MORAIS, José Roberto. Fantástico Mundo da Leitura. José Roberto Morais. Pará de Minas, MG: VirtualBooks Editora, Publicação 2022. E-book formato PDF (p.39-40)

quarta-feira, 5 de julho de 2023

EXPLOSÃO CULTURAL DE ALEGRIA

            CRÔNICA

             “Explodiu meu coração / Feito bomba no são João”. Esses são os versos iniciais da composição junina de Luiz Fidélis sobre o momento festivo em que conheceu sua esposa. Utilizo as palavras desse ícone da cultura musical para sintetizar a Gincana Junina no CETI Francisca Pereira de Sousa Morais em Fronteiras PI.

A explosão de alegria estampada nos rostos dos participantes desse momento cultural no seio educacional permite uma viagem pela diversidade histórica brasileira, apresentando fantasias sobre personagens do cangaço nordestino (Lampião e Maria Bonita), do forró, xote e xaxado (Luiz Gonzaga e Karolina com K), da literatura (Maria das Tiras), o vendedor de cordel e outros. Além dessas, as apresentações recheadas de alegria e cultura transforma o tradicional desfile das Rainhas Juninas, algumas  com vestidos artesanais, em um momento de dança, música e simpatia pelas participantes, seja no calor do “Meio Dia” ou numa “Sala de Reboco”:  a criatividade destacada no casamento junino quando o padre e os noivos chegam para a solenidade em uma bicicleta enfeitada de fitas e bandeirolas; a tradicional quadrilha junina, improvisada para o sorriso ser espontâneo e a diversão abundante; e as apresentações de poemas, descobrindo novos talentos da linguagem dos versos representam a diversidade nesse momento de festividade cultural.

Destaca-se também as homenagens aos artistas da música e da literatura. Desde nomes literários consagrados internacionalmente aos poetas e cronistas regionais, incluindo destaques da literatura de cordel, poesia popular e/ou erudita; como Patativa do Assaré (poeta popular e escritor), Bráulio Bessa (cordelista e escritor), Jurdan Gomes (cantor, compositor e poeta), Edgar Pereira (cordelista e escritor), Ilza Bezerra (cordelista), José Roberto Morais (poeta, cordelista e escritor) e Francisco de Assis (cronista, poeta e escritor).

E assim... no “resfulengo da sanfona”, no “chiado do chinelo”... uma explosão cultural de alegria tomou conta da Gincana Junina do Chica Pereira.

Crônica

José Roberto Morais

Professor 

IMPEACHMENT

Teu cabelo cacheado

Por teu riso encantador

Na assembleia, condenado

Pelo impeachment do amor.


Sítio Tanquinho, Araripe CE

05/07/2023