quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

LÁGRIMAS POÉTICAS


Eu já vivi amores no passado
Que me trouxeram bastante alegria
Apaixonado cada vez que sorria
Ou simplesmente estava ao meu lado
Lembro aqueles encontros no mercado
Abraços fortes, beijos calientes
E depois seguíamos sorridentes
Todas essas lembranças eu guardei
Para cada lágrima triste que chorei
Surgiram dez poemas diferentes

Ela foi embora, já me deixou
Chorei rios ao ver sua partida
Noutras terras seguindo sua vida
Nem sequer lembra o que a gente passou
Meu coração machucado chorou
Meu sorriso triste, lábios carentes
Pesadelos tornaram permanentes
Nunca mais um sonho lindo sonhei
Para cada lágrima triste que chorei
Surgiram dez poemas diferentes.

Sítio Tanquinho, 05 de dezembro de 2019

terça-feira, 19 de novembro de 2019

O DIÁRIO DE ANNE FRANK: UMA FERRAMENTA HUMANA


O Diário de Anne Frank é uma obra de grande valorização no meio literário. Entretanto, ainda é pouco explorada, dado o seu caráter intelectual, documental e histórico. Esse livro pode ser uma importante ferramenta humana para os dias atuais.
Anne Frank nasceu em 1929, na Alemanha. Aos quatro anos foi obrigada a sair do país com a família devido a ascensão de Hitler ao poder. Quando o nazismo chega a Holanda para onde rumaram, a família Frank é forçada a se esconder no anexo do sótão do escritório de Otto Frank, pai de Anne. Além da garota, seu pai, sua mãe e sua irmã Margot, também se refugia no esconderijo três integrantes da família Van Pels e o dentista Dussel.
Em meio ao conflito da Segunda Guerra Mundial, em um ambiente pequeno e fechado, com muitas pessoas, a adolescente se apega ao diário que ganhou no aniversário para expor seus pensamentos, emoções e dúvidas, que mais do que os conflitos comuns de adolescentes. Para Anne ainda havia a Guerra, o massacre, a falta de liberdade e de dignidade humana, os sonhos sufocados.
A família Frank ainda ficou refugiada no anexo secreto por dois anos, até ser encontrada pelos nazistas. Anne morreu em um dos campos de concentração aos 15 anos. Dos membros da família, apenas Otto Frank sobreviveu.
O livro é tão importante que já teve algumas versões e inúmeras edições. O original que a garota escreveu e outra que ela mesma reorganizou para divulgar. Depois da Guerra, seu pai quis realizar o desejo da garota de publicar os relatos, então organizou outra versão para resguardar algumas confissões íntimas da menina. Posteriormente, estudiosos fundamentaram a versão atualmente conhecida, de forma a preservar a veracidade e originalidade dos escritos.
Não é preciso terminar de ler o livro para ter certeza de seu valor, antes de chegar a metade, o leitor já se apaixona.
O diário de Anne Frank pode ser muito proveitosamente utilizado nas escolas como ferramenta pedagógica (paradidático), visto que na linhagem da História o livro relata fatos e datas memoráveis, que podem auxiliar no ensino da disciplina. A obra de Anne Frank é marcada também pelos aspectos da adolescência, os quais podem fazer com que os jovens estudantes se identifiquem e assim o diário pode servir de ferramenta socioemocional, sobretudo quando a menina descreve suas emoções e sinaliza: “Sinto-me má ao dormir numa cama quente, enquanto em algum lugar meus melhores amigos estão caindo de exaustão ou sendo derrubados”. Além disso, o livro pode despertar no leitor o desejo de escrever, a garota afirma: “O papel tem mais paciência do que as pessoas”.
Anne atenta muito para as questões do dia a dia e põe o leitor a pensar nas questões da vida. Inegavelmente, os relatos da menina prendem o leitor do início ao fim e desperta seus sentimentos, principalmente ao demonstrar sonhos e o desejo de escrever livros, “até agora só contei meus pensamentos ao meu diário... no futuro, vou dedicar menos tempo ao sentimentalismo e mais tempo à realidade”.
O diário de Anne Frank é de muito valoroso e atual, um daqueles livros que todos devem ler. A gente cresce com esta ferramenta, que é um verdadeiro manual humano.

Gerlane Cavalcante 

SOMOS ESCRITORES: JOVENS QUE ESCREVEM. Organizador e Autores. Pará de Minas, MG: VirtualBooks Editora, Publicação 2019. (pp. 47 - 48)

sábado, 9 de novembro de 2019

87 DE IDADE


À minha vó Santa

Dona Santa completou
87 de idade
O tempo já se passou
Já se foi a mocidade
Já batalhou nessa vida
Na sua estrada florida
Também encontrou espinho
É uma grande guerreira
Na juventude parteira
Mãe de umbigo com carinho

Com Expedito casou-se
Foi a mãe de seis crianças
Das mesmas cinco vingou-se
Hoje restando lembranças
Dos longos dias vividos
Dos desafios vencidos
Dificuldades enfrentadas
Socorro já nos deixou
Ás quatro que aqui ficou
Merecem serem lembradas

Lourdes, Senhora e Penha
Rita também agradece
Que muitos anos inda venha
Seus cabelos embranquece
Aos 87 de idade
Dona Santa tem saudade
Registrada na memória
Pois construiu sua vida
Lutou e venceu a lida
Construindo sua história.

Poeta José Roberto


sexta-feira, 8 de novembro de 2019

MATEMATICANDO NO OSSIAN


Boa tarde aos presentes
Atenção por gentileza
Hoje o dia é diferente
Possui imensa grandeza
Fazer o “matematicando”
No Ossian é praticando
Nossas ações com firmeza

Já chegou o grande dia
O momento aguardado
Vamos usar sintonia
Para obter resultado
Fazer as operações
Adições e subtrações
Ter número multiplicado

Vamos na trilha brincar
Também jogar os dados
No wall (uól) a bola jogar
Fazer cálculos dobrados
Encontrar de xis o valor
Na corrida ser vencedor
Nas equações ser somado

Resolver quebra-cabeça
Somando e dividindo
Que o resultado apareça
Nas contas subtraindo
Viajar na matemática
Usando sempre uma tática
As respostas descobrindo

Jogando os dominós
Vou resolver o problema
Jogo da velha ‘pra’ nós
Batalha não é dilema
Aprimorando os estudos
Trabalhando os conteúdos
De todo e qualquer tema

As potências e equações
Números inteiros usando
Soma e multiplicações
Nos quizzes realizando
Expressões e triângulos
Observamos retângulos
Da Geometria falando.


domingo, 29 de setembro de 2019

EDGAR ALLAN POE: O PIONEIRO DA FICÇÃO DE DETETIVE


Poe foi um escritor capaz de retratar temas e situações
que não conseguem deixar o leitor imparcial”.
(PERNA & LAITANO, 2009)

Edgar Allan Poe (1809-1849) - poeta americano, escritor de contos, crítico literário e editor, que é mais conhecido por suas estórias de raciocínio, fantásticas estórias de horror e estórias de detetive que fundam o gênero. Poe, cuja vida pessoal nebulosa é uma lenda virtual, considerava-se primordialmente um poeta. Nascido em Boston em 1809, teve uma vida repleta de acontecimentos fantásticos, misteriosos e tristes, que certamente influenciaram nas temáticas de seus textos. O escritor, já aos três anos de idade, sofre com a perda dos pais e está entregue aos cuidados de um grupo de atores. Autor do famoso poema “O Corvo”. Escreveu contos sobre mistério, inaugurando um novo gênero e estilo na literatura.
Os temas sombrios presentes em suas obras literárias também marcaram sua biografia. As tragédias pessoais e a convicção sobre o próprio brilhantismo tornaram sua vida tão fascinante quanto suas criações e essencial para compreendê-las, segundo Fabra (2013).
Poe nasceu em Boston, nos Estados Unidos, no dia 19 de janeiro de 1809. Filho dos atores de teatro, David Poe Jr que abandonou a família em 1810 e de Elizabeth Arnold que morreu após o nascimento de Rosalie (irmã mais nova de Poe). Segundo Baudelaire (2003, p.4),

David Poe Jr, padre de Edgar e hijo del general, se enamoró perdidamente de una atriz inglesa, Elizabeth Arnold, célebre por su beleza; se fugó uy se casó con ella. Para unir más íntimamente su destino al de ella, se hizo actor y apareció con su mujer en diferentes teatros, en las principales ciudades de la Unión.[1]


Ao ficar órfão de mãe e ter a família abandonada pelo pai. Poe foi adotado informalmente por família de ricos comerciantes (mercador de tabaco) de Baltimore, na Virgínia, que lhe proporcionaram uma educação de qualidade, dos melhores professores da época, segundo Frazão (2018).
Edgar A. Poe ingressou na Universidade de Virgínia. Era inquieto e indisciplinado. Nessa época passava a maior parte do tempo envolvido com mulheres e bebidas que tornou endividado. Foi expulso por causa desse estilo aventureiro e boêmio.
Baudelaire (2003, p.5) menciona que

la miséria le hizo ser soldado una temporada, y es de suponer que empleó los pesados ocios de la vida de guarnición en preparar los materiais de sus futuras composiciones, composiciones extrañas que parecen haber sido creadas para demonstrarnos que la singularidad es una de las partes integrantes de lo Bello. [2]


Em 1829 entrou para a carreira militar, na Academia de West Point, mas acabou expulso por indisciplina. Perdeu a mesada de seu tutor e passou a escrever para sobreviver, tornou-se editor de uma revista de Richmond. Segundo Kennedy (2001), o Sr. Allan frequentemente reclamava que seu filho adotivo (Poe) não demonstrava nenhum afeto nem gratidão para com ele.
Depois, foi morar com sua tia, viúva, e sua filha Virgínia Clemm. Em 1836 casa-se com sua prima, Virgínia, de apenas 13 anos de idade. Ela era “uma menina linda e encantadora, de um caráter amável e heróico, mas pobre” (BANDELAIRE, 2003, p.6).  Nessa época, seu projeto “Os contos de Folio Club”, composto por poemas e contos, é aceito para ser publicado em um único volume.
Passou por dificuldades financeiras depois que perdeu o emprego. Elas foram superadas ao vencer os concursos de conto e poesia, promovidos pela revista “Southern Literary Messager, segundo Dilva Frazão (2018). Sem emprego nem renda, Poe sobrevive com alguns poemas publicados em jornais e revistas. Em 1833, ganha um concurso literário do The Saturday Visiter com o conto “Manuscrito encontrado numa garrafa”.
Após convite para dirigir a revista, durante dois anos esteve à frente do periódico, onde publicava contos, poemas e artigos de crítica literária, menciona Frazão (2018). Já nas palavras de Bandelaire (2003, p.6),

Edgar Allan Poe, con un maravilloso ardor, asombró a su público con una serie de composiciones de un nuevo género y con artículos críticos cuya viveza, claridad y severidad razonadas estaban hechas realmente para atraer las miradas. Aquellos artículos se ocupaban de libros de todo género, y la sólida cultura que el joven había adquirido le sirvió mucho.[3]


Viciado na bebida perdeu seu emprego. O motivo desse rompimento foram os ataques de hipocondria e as crises alcoólicas do poeta, acidentes característicos que escureciam seu céu espiritual, como essas nuvens tristes que de repente dão a paisagem um ar mais romântico de melancolia em aparência irreparável, segundo Bandelaire (2013). Além disso, Dilva Frazão (2018) acrescenta que naquela época sua esposa adoeceu e Poe começou a produzir como free-lancer, mas não obteve grandes resultados, afundou-se na bebida, e a morte da mulher agravou-lhe o problema.
Poe interessou-se pela literatura. Editou, dirigiu e colaborou em revistas de forma brilhante, difundindo artigos críticos, filosóficos e contos. Segundo Ramos (2015 p.1), “sua carreira de escritor começou pouco depois de abandonar a Universidade, com a publicação de uma coleção anônima de poemas denominada, Tomerlane and Other Poems -1827 (Tomerlane e Outros Poemas)”. Depois, seguiram outras publicações: Al Aaraaf, Tamerlane, and Minor Poems (Al Aaraaf, Tamerlane e Poemas Menores) em 1829; Tales of the Grotesque and Arabesque (Contos do grotesco e do arabesco) em 1830.
Em 1841, Poe lançou o novo gênero de ficção de detetive com "The Murders in the Rue Morgue" (Os assassinatos na Rua Morgue). Suas inovações tornaram-lhe conhecido como "o Pai do Conto de Detetive". Um escritor em crescimento, ele ganhou um prêmio literário em 1843 por "The Gold Bug," (O Bug de Ouro) um conto cheio de suspense códigos secretos e caça ao tesouro.
O conto “The Black Cat” (O Gato Preto) de Edgar Allan Poe foi publicado em 1843 no The Saturday Evening Post. Nesse, o narrador, um amante de animal, torna-se um alcoólatra que começa abusar de sua esposa e do gato preto, Pluto. Pelo fim macabro da estória, o narrador observa sua própria loucura ao matar a esposa, um relato do crime de seu gato preto a polícia. O conto foi mais tarde incluído em 1845 na coleção de “Contos de Edgar Allan Poe”.
O poema de Poe "The Raven" (O Corvo) publicado em 1845 no New York Evening Mirror, é considerado entre os melhores e mais conhecidos poemas na Literatura Americana e um dos melhores da carreira de Poe. Um narrador desconhecido lamenta a perda de seu grande amor, Leonora, e é visitado por um corvo que insiste em repetir a expressão: “nunca mais”. No trabalho, que consiste de 18 estrofes de seis versos, Poe explorou alguns de seus temas comuns – morte e perda.
Segundo Dilva Frazão (2018, p.1)

Edgar Allan Poe deixou poemas, contos, romance, temas policiais e de horror. Muitas de suas obras exploram a temática do sofrimento causado pela morte. O poeta acreditava que nada seria mais romântico que um poema sobre a morte de uma mulher bonita. É considerado o criador do conto policial, seus poemas mergulham na tristeza e as narrativas em temas de horror. Suas obras foram um marco para a literatura norte-americana contemporânea, com destaque para "Contos do Grotesco e Arabesco", publicado na França com o título de "Histórias Extraordinárias" (1837), contos que influenciaram diversas gerações de escritores de livros de suspense e terror, e os poemas, “O Corvo” (1845) e “Annabel Lee” (1849).


Entre suas obras destaca-se também: “A Queda da Casa dos Usher” (1839), “Os Crimes da Rua Morgue” (1841), “A Máscara da Morte Escarlate” (1842), “O Coração Delator” (1843), “O Gato Preto” (1843) e “O Barril de Amontilhado” (1846). Edgar Allan Poe faleceu numa taberna, em Baltimore, em decorrência de doenças provocadas pelo álcool, no dia 07 de outubro de 1849. Seu enterro ocorre no dia 08 de outubro de 1949, sem ostentação.
Poe tem tido sua vida biografada e a obra estudada em todo o mundo. Surgem críticos literários que admiram sua obra em diferentes países. Seus contos tem encantado estudiosos e conquistado leitores, pois ele é um escritor que ainda continua vivo no âmbito da literatura norte-americana, tanto pela grandiosidade de suas obras, quanto pelas influências que elas deixaram na literatura mundial, segundo Carmo (2014). Poe é considerado um dos grandes escritores da literatura mundial, não apenas pela variedade, mas também pela extensão de sua produção literária, até mesmo Paul Valéry o aclamou como o mestre da imaginação material (TODOROV, 2004).
D. H. Lawrence foi, entre tantos outros, um dos críticos da obra de Poe. Segundo ele, os contos góticos de Poe seriam evidência de que sua mente estava se deteriorando. Ele foi um escritor capaz de retratar temas e situações que não conseguem deixar o leitor imparcial, que criam uma gama imensa de imagens, sejam elas reais ou não, produtos da loucura ou da sanidade absoluta e que atingem diretamente o seu destinatário, tornando-o cúmplice daqueles crimes, daqueles desvarios (LAWRENCE, 1977 apud PERNA & LAITANO, 2009).
No imaginário coletivo e na cultura popular, Edgar Allan Poe é o escritor do sobrenatural, e a sua vida confunde-se com a dos seus narradores anónimos atormentados por visões fantasmagóricas que não conseguem interpretar. Além disso, Poe é considerado um dos precursores da literatura de ficção científica e fantástica moderna.

Notas:
1. David Poe Jr, pai de Edgar e filho do general, apaixonou-se perdidamente por uma atriz inglesa, Elizabeth Arnold, famosa por sua beleza; ele fugiu e se casou com ela. Para unir seu destino mais intimamente ao dela, ele se tornou ator e apareceu com sua esposa em diferentes teatros, nas principais cidades da União.” (Nossa Tradução - NT)
2.  A miséria fez dele um soldado por um período, e supõe-se que ele começou os pesados ​​ócios da vida da guarnição em preparar os materiais de suas futuras composições, composições estranhas que parecem ter sido criadas para nos mostrar que a singularidade é uma das partes integrantes do belo.” (NT)
3. Edgar Allan Poe, com um ardor maravilhoso, surpreendeu seu público com uma série de composições de um novo gênero e com artigos críticos cujas razões de raciocínio, clareza e severidade foram realmente feitas para atrair os olhares. Aqueles artigos lidavam com livros de todo gênero, e a sólida cultura que o jovem adquirira lhe servia bem.” (NT)


REFERÊNCIAS

BANDELAIRE, Charles. Edgar Allan Poe: su vida y sus obras. Biblioteca virtual universal. 2003.

DUARTE, Bruno Marques. H.P. Lovecraft na história da literatura fantástica dos EUA. FURG, 2013. Disponível em: http://ebooks.pucrs.br/edipucrs/Ebooks/Web/x-sihl/media/comunicacao-4.pdf Acesso em 21 de janeiro de 2019.

FARBA, Jordi Sierra i. Poe: a vida brilhante e sombria de um gênio / Jordi Sierra i Farba; ilustrações Alberto Vásquez; tradução José Rubens Siqueira. – 1.ed. – São Paulo: Ática, 2013.  

FRAZÃO, Dilva. Biografia de Edgar Allan Poe. Atualizado em 29 de novembro de 2018. Disponível em: https://www.ebiografia.com/edgar_allan_poe/ Acesso em novembro de 2018.

PERNA, Cristina Lopes; LAITANO, Paloma Esteves. O clássico Edgar Allan Poe. Letras de Hoje, Porto Alegre, v. 44, n. 2, p. 7-10, abr./jun. 2009.

RAMOS, Thaciane Rollemberg. Edgar Allan Poe. UNIABEU, 2015. (Graduada em Letras - Literatura e Língua Portuguesa). Disponível em:

SILVA, José Roberto de Morais. O fantástico nos contos "Berenice, Eleonora e Morella" de Edgar Allan Poe / José Roberto de Morais Silva - 2019. Monografia (graduação) - Universidade Estadual do Piauí - UESPI, Licenciatura Plena em Letras/Inglês, 2019. Orientador Prof. Me. Hélder Regino da Costa Silva. (pp.15-19)

TELES, Hanny F. P; TELES, Luciano E. C. A literatura fantástica de Edgar Allan Poe: histórias extraordinárias. Centro Universitário Nilton Lins, 2011.
  
TELES, Hanny Francy Passos. A literatura fantástica de Edgar Allan Poe. Publicado em 01 de Agosto de 2011. Disponível em:



domingo, 8 de setembro de 2019

O BOI ZEBU E AS FORMIGAS: UMA METÁFORA¹


José Roberto Morais²
“O boi zebu qué dizê
Que é os mandão do podê
E estas formiga é o povo.”
(Patativa do Assaré)

            Para compreendermos uma das finalidades do poema “O Boi Zebu e As Formigas” se faz necessário a leitura completa do mesmo, pois o poeta revela sua intenção apenas nos versos finais. Porém, o título do poema é sugestivo, funcionando como uma metáfora para a compreensão de seu objetivo.
            Nele os políticos são representados pelo boi zebu, já que esse animal possui características semelhantes às agregadas por Patativa do Assaré aos mesmos. O poeta faz um trabalho de personificação com o zebu, quando o presenteia com características humanas, que no poema em questão o fazem ser relacionados aos homens públicos, dentre essas características podemos citar: sua grandeza (relacionada ao tamanho) e força, o que os torna invencíveis, sua indiferença ao que acontece ao seu redor, sua preguiça e comodismo.
            Trabalho semelhante o poeta faz com as formigas, que representam o povo, dentre as características humanas que podemos citar e que as aproximam da classe que representam no poema são: seu tamanho (pequeno e insignificante comparado ao boi zebu); seu método de trabalho, constante e organizado, no qual todos respeitam as ordens hierárquicas, ocasionando a manutenção do sistema em vigor; a divisão e o período do trabalho, nos quais durante determinada temporada se organizam e trabalham para que no inverno usufruam do resultado do mesmo; a união, já que como cada uma tem consciência de sua função no contexto do formigueiro as mesmas não brigam, nem mesmo se desentendem.
            Escrito numa linguagem totalmente popular, as décimas que compõem o poema revelam a preocupação do poeta com sua classe social. O poema é composto por nove décimas (estrofes de dez versos) que retratam a situação enfrentada pelas classes inferiores. Observando a primeira estrofe, percebe-se nas entrelinhas a situação desafiadora que os párias (as classes trabalhadoras) enfrentam e a tranquilidade e indiferença dos políticos que ocupam o topo da pirâmide social. A ideia mencionada fica explícita no percurso da estrofe.

Um boi zebu certa vez
Moiadinho de suó
Querem sabê o que ele fez
                                             Temendo o calor do só
Entendeu de demorá
E uns minutos cuchilá
Na sombra de um juazêro
Que havia dentro da mata
E firmou as quatro pata
                                             Em riba de um formiguêro.

            Nessa estrofe os políticos são retratados como “grandes” ou superiores, os versos narram sua preguiça e comodismo. Patativa do Assaré denuncia sua incompetência em gerir os recursos públicos, anunciando que os mesmos “sobem” no povo, representados pelas formigas, por serem pequenas e trabalhadoras, os zebus se promovem e garantem a manutenção de sua desocupação sobre essas pequenas formigas.
            Já na segunda estrofe, o poeta cita o provérbio “a união faz a força” de forma implícita, induzindo os leitores a refletir acerca da organização e união do povo para vencer os obstáculos e problemas sociais que se colocam a sua frente, a união de todos seria a arma exata, pois, “juntos e unidos, os povos jamais serão vencidos” (provérbio popular).

Já se sabe que a formiga
Cumpre sua obrigação
Uma com outra não briga
Veve em perfeita união
Paciente trabaiando
                                             Suas fôia carregando
Um grande inzempro revela
                                             Naquele seu vai e vem
                                             E não mexe com ninguém
                                             Sem ninguém mexê com ela.

            O trabalho organizado das formigas funciona como um exemplo que o poeta nos quer passar, ele chama a atenção para a sua organização e divisão eficiente, promovendo assim a união e o caráter inofensivo das formigas também é demarcado, porém, Patativa nos chama a atenção para o fato de que essa parcialidade pode ser comprometida se sua organização for ameaçada, o que nos remete a reação combativa do povo frente a absurdos que lhes são impostos.
            Essa revolta se concretiza de forma sutil na terceira estrofe, culminando em uma rebelião, inicialmente silenciosa. A ideia de manifestação é assim descrita pelo poeta:

Por isto com a chegada
Daquele grande animá
Todas ficaro zangada
Começaro a se açanhar
E foro se reunindo
Nas pernas do boi subindo
Constantemente a subir
Mas tão devagar andava
                                             Que no começo não dava
Pra ele nada senti.

            Na quarta estrofe, o poeta relata a disseminação da rebelião, que se espalha por todos os cantos, já que as formigas estão em todos os lugares e possuem as mesmas características, inclusive a inconformidade ao serem prejudicadas, não importando o tamanho e a importância de quem as incomoda. Essa luta por direitos ganha repercussão nacional e resistência, pois nessa empreitada, quando os donos do poder (boi) reagem de forma raivosa, dando coices contra as formigas (povo), na tentativa desesperada de amedronta-las, aparecem mais “formigas” para fortalecer a causa. Essa passagem é narrada da seguinte forma:

Mas porém como a formiga
Em todo canto se soca
Dos cascos até na barriga
                                             Começou a frivioca            
E no corpo se espaiando
O zebu foi se zangando
E os cascos no chão batia
Mas porém não miorava
Quanto mais coice ele dava
Mais formiga aparecia.

            Na quinta estrofe, o poeta narra o desespero do político ao deparar-se com a manifestação organizada do povo, que agora fazia capaz de superar seu poder e seu controle. O político usa suas estratégias de defesa e ordem, mas elas falham, pois a cada investida sua, suas forças diminuem e a forma da população aumenta. As manifestações continuam e a cada momento aparecem mais pessoas que se unem em busca dos seus direitos. A estrofe mencionada fala:

Com esta formigaria
Tudo picando sem dó
O lombo do boi ardia
Mais do que na luz do só
E ele zangado as patada,
Mais a força incorporada
O valentão não aguenta,
O zebu não tava bem
Quando ele matava cem
Chegava mais de quinhenta.
               
            Na sexta estrofe, uma voz de liderança surge e convoca todos os injustiçados a se unirem no combate, essa voz usa o argumento da união para embasar seu clamor, enfatizando que o zebu é um só, portanto, sua força e poder foi alquebrado. Essa passagem reflete o aspecto visionário e engajado de Patativa, que sempre acreditou e defendeu em sua obra, a força popular como capaz de sanar todas as desigualdades e colocar novamente ordem ao caos vivido no contexto do autor, portanto, essa passagem se caracteriza como crítica política do poeta ao sistema político em vigor nas palavras de Patativa.

Com a feição de guerrêra
                                             Uma formiga animada
Gritou para as companhêra:
- Vamo minhas camarada
Acabá com o capricho
Deste ignorante bicho
Com nossa força comum
Defendendo o formiguêro
Nóis somo munto miêro
E este zebu é só um.
                       
            Ainda analisando essa estrofe, percebemos que o convite feito pela formiga líder permite a interação com as demais. É por meio da sua fala que o poeta se coloca e interage com o público. Percebe-se a aplicação da ideia de Lucien Goldmann (1967) acerca das estruturas cognitivas aplicadas às relações entre o autor e o grupo social, mesmo conceito que Antônio Cândido mencionou em sua obra como as relações entre escritor e público. Esse poema de Patativa pode ser visto e analisado por esse ângulo, pois nos versos que compõem essa estrofe, percebe-se claramente esse diálogo entre o poeta e a sociedade, comprovado através do uso do verbo “vamo”, na primeira pessoa do plural, refletindo a ideia de coletividade.
            Quando acontecem manifestações políticas na sociedade, costuma-se lotar as ruas de pessoas; crianças, jovens, adultos, idosos, deficientes, reivindicando seus direitos. As pessoas param o trânsito das grandes cidades buscando atingir seus objetivos, geralmente ligados a uma sociedade com menos diferenças sociais. Patativa expõe esses fatos na sétima estrofe do poema, sempre usando as metáforas; formiga=povo e zebu=políticos (mandão do podê). Patativa cita até mesmo as etnias diferentes que se misturam e formam o nosso povo que luta unido pelo direito de todos.
           
                                             Tanta formiga chegô
Que a terra ficou cheia
Formiga de toda cô
Preta, amarela e vremêa
No boi zebu se espaiando
Cutucando e pinicando
Aqui e ali tinha um móio
E ele com grande fadiga
Pruquê já tinha formiga
Até por dentro dos óio.

            Como era de se esperar, a união das formigas consegue vencer os desmandos do zebu, representado o povo que conquista a garantia de seus direitos, vislumbrando o conserto do desmantelamento da estrutura social a que pertence. A derrota desses políticos corruptos está representada assim no poema:

Com o lombo todo ardendo
Daquele grande aperreio
O zebu saiu correndo
Fungando e berrando feio
                                             E as formigas inocente
Mostraro pra toda gente
Esta lição de morá
Contra a farta de respeito
                                             Cada um tem seu direito
Até nas leis naturá.

            Na nona e última estrofe, o poeta revela sua real intenção, esclarecendo as metáforas usadas para representar os políticos e o povo, narrando também as conquistas garantidas pela luta empreendida pelo povo oprimido, como a defesa de seus lares e comunidades. Por fim, Patativa ainda relembra novamente a importância da união no combate às injustiças.

As formigas a defendê
Sua casa, o formiguêro
Botando o boi pra corrê
Da sombra do juazêro
Mostraro nesta lição
Quanto pode a união;
Neste meu poema novo
O boi zebu qué dizê
Que é os mandão do podê
E estas formiga é o povo.
           
            Percebe-se ao longo do poema que o poeta é vítima do sistema social sucateado e ineficaz que o cerca, por isso Patativa do Assaré faz uso da arma, a palavra, que possui para modificar essa realidade. As palavras do poeta é o canto do “pássaro liberto” que torna sua obra relevante no contexto social e na literatura engajada.

NOTAS

1.      Capítulo 4 do livro “Reforma Agrária e o Boi Zebu e as Formigas: uma análise sociológica” do professor José Roberto Morais.
2.      Professor. Graduado em Letras pela Universidade Regional do Cariri – URCA.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSARÉ, Patativa do. Ispinho e Fulô. São Paulo: Hedra, 2005.
BRITO, Antônio Iraildo Alves de. Patativa do Assaré: Porta Voz de um Povo: as marcas do sagrado em sua obra. São Paulo: Paulus, 2010.
CÂNDIDO, Antônio. Literatura e Sociedade. 11ª Ed. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2010.
CARVALHO, Gilmar de. Patativa do Assaré: Pássaro Liberto. Publicado pelo Museu do Ceará. Fortaleza, 2002.
SILVA, José Roberto de Morais. Reforma Agrária” e “O Boi Zebu e as Formigas”:  uma análise sociológica. José Roberto de Morais Silva. Pará de Minas, MG: Virtualbooks, Editora, Publicação 2017, pp. 45-53.