terça-feira, 24 de março de 2020

DITADOR INVISÍVEL


Trancado, sem relações interpessoais
Apenas relação virtual é possível
Governado por um ditador invisível
Expandindo seus domínios cada vez mais

Impera e controla nos tempos atuais
Para unir e separar, é imprevisível
Distancia amigos; amantes, impossível
Enlaçar as mãos, abraçar; beijar, jamais

Nas relações interfere constantemente
Encontros de pessoas impossibilita
E torna inconstante os dados da economia

Tem dificultado a visita de parente
Que em outras cidades ou estados habita;
Pois, no reino do Corona não há empatia.


Sítio Tanquinho, Araripe - CE, 24/03/2020. 

CHUVA NO CARIRI

O SERTÃO EM VERSOS


A chuva ao amanhecer alvejou
O sertão, onde adotei ser meu lar
Não pude ir à roça trabalhar
Nem colher o feijão que já brotou

Sentado fiquei, da porta a observar
A água que descendo se ajuntou
No baixio, o açude se formou
Onde os sapos estão a coaxar

No juazeiro, pássaros pousando
Percebo o campina, o bem-te-vi
Cantando, escuto nambu e juriti

Nas roças, o feijão já enramando
Está o verde milharal brotando
As nuvens derramam no Cariri.

Sítio Tanquinho, Araripe - CE, manhã de 24/03/2020.

segunda-feira, 23 de março de 2020

O ENCONTRO DOS AMANTES NO MEIO DO CAMINHO


José Roberto Morais¹

Considerações iniciais
O termo parnasianismo se originou da tradução de Parnasse (Parnaso), morada mitológica dos poetas. No final da década de 1870 e anos 80 do século XIX prevalece a rejeição ao sentimentalismo romântico e a busca pela criação de uma poesia que se orientasse pelo ideal da “arte pela arte”.  Essa ideia de que a arte constitui um exercício intelectual destinado ao prazer da contemplação foi proposto pela revista Le Parnasse Contemporain e pelos representantes franceses dessa tendência: Théophile Gautier, Leconte de Lisle e Charles Baudelaire. No Brasil, o movimento recebeu boas-vindas nas escolas de Direito e amplamente valorizado pela elite nacional, influenciando a produção poética até 1922. A tríade parnasiana brasileira que tronou-se famosa no seio literário é composta por Alberto de Oliveira, Olavo Bilac e Raimundo Correia. 

O Príncipe do Poetas Brasileiros
Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac nasceu em 16 de Dezembro de 1865 no Rio de Janeiro, Brasil. Foi um jornalista e poeta brasileiro, membro fundador da Academia Brasileira de Letras, autor do Hino à Bandeira Nacional Brasileira. Homenageado com o título de Príncipe do poetas brasileiros, pela revista Fon-Fon através de concurso. É considerado um dos mais importantes e populares poetas brasileiros. Morreu em 28 de Dezembro de 1918 na sua cidade natalícia.  

O Encontro dos Amantes no Meio do Caminho
NEL MEZZO DEL CAMIN...
Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada
E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E alma de sonhos povoada eu tinha...

E paramos de súbito na estrada
Da vida: longos anos, presa à minha
A tua mão, a vista deslumbrada
Tive da luz que teu olhar continha.

Hoje segues de novo... Na partida
Nem o pranto os teus olhos umedece,
Nem te comove a dor da despedida.

E eu, solitário, volto a face, e tremo,
Vendo o teu vulto que desaparece
Na extrema curva do caminho extremo
.

Ao realizar a leitura do poema, pode-se fazer algumas observações: iniciando pelo título, percebe-se que está em língua latina, considerada uma língua culta, clássica. Além disso, trata-se de um trecho de verso da Divina comédia do escritor italiano Dante Alighieri. Ao observar a estrutura, nota-se uma preocupação da arte pela arte, demostrada pela preferência pelo soneto: poema clássico formado por dois quartetos (estrofe de quatro versos) e dois tercetos (estrofe de três versos). Ao analisar as rimas apresentadas, percebe-se que a maioria são rimas ricas, isto é, palavras de classes gramaticais diferentes, como estrada (substantivo) e deslumbrada (adjetivo); minha, (pronome possessivo) e continha (verbo); tremo (verbo) e extremo (adjetivo).
Outras características parnasianas estão relacionadas ao tema abordado de forma impessoal, pois para os poetas parnasianos é indispensável que os sentimentos fossem comunicados por meio da forma pura e de expressões comedidas, compreendendo que a beleza reside no equilíbrio e na serenidade. Já que a poesia parnasiana pretende ser impassível e manifesta a atração por tempos (longos anos) e lugares remotos (estrada da vida); restaura uma cultura clássica, erudita, que proporciona enlevo, deslumbramento ao leitor (título em latim: nel mezzo del camin...); comedimento emocional e construção de formas puras com simplicidade da beleza advinda de um esforço de mestres da versificação (versos decassílabos); palavras bem escolhidas e arquitetadamente organizadas comunicam com maior eficácia os sentimentos (preferência pelo ordem inversa).
Algumas figuras de linguagem enriquecem a mensagem transmitida nos versos. Na primeira estrofe, percebe-se a repetição simétrica comunica a ideia do encontro dos amantes, que viviam emoções idênticas. Ressalta-se que o encontro foi perfeito e oportuno, pois trouxe os amantes estavam tristes e cansados, mas tinham sonhos na alma.
Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada
E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E alma de sonhos povoada eu tinha...


            A segunda estrofe apresenta a união do casal. Para que vivam esse amor iluminado por muitos anos juntos, revelando a felicidade amorosa vivida pelos amantes.

E paramos de súbito na estrada
Da vida: longos anos, presa à minha
A tua mão, a vista deslumbrada
Tive da luz que teu olhar continha.

Na estrofe seguinte, os amantes são separados definitivamente devido à morte da mulher, sugerida pela ausência de emoção no momento da partida.

Hoje segues de novo... Na partida
Nem o pranto os teus olhos umedece,
Nem te comove a dor da despedida.

Na última estrofe, “E eu, solitário, volto a face, e tremo, / Vendo o teu vulto que desaparece / Na extrema curva do caminho extremo.”, mostra-se um amante resignado, triste e solitário, como alguém que treme e compreende a morte, implícita pela expressão “extrema curva do caminho extremo”, que metaforicamente faz referência ao fim da vida.

Nota 1: Professor e escritor; Graduado em Letras pela URCA; Especialista em Metodologia do Ensino de Inglês e Português pela UCAM, e Docência do Ensino Superior pela FAIARA.

Referências

BILAC, Olavo. In Obra reunida (org. Alexei Bueno). Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996, p.155.

MOISÉS, Maussad. História da Literatura Brasileira: realismo e simbolismo. Vol II. 5ª edição. São Paulo: Editora Cultrix, 2001. 

TORRALVO, Izetti Fragata. Linguagem em movimento: literatura, gramática, redação: ensino médio, vol 2 / Izetti Fragata Torralvo, Carlos Cortez Minchillo. – São Paulo: FTD, 2008.
  

domingo, 8 de março de 2020

DEUS NÃO ESCOLHE OS CAPACITADOS, ELE CAPACITA OS ESCOLHIDOS


Essa frase soa levemente nos nossos ouvidos e apresenta-nos uma revelação através das palavras.
Quando iniciamos a leitura dos textos bíblicos, podemos compreender melhor o significado dessa mensagem. Pois, as escolhas de Deus surpreendem imensamente aqueles que não o compreendem. Logo nos primeiros livros bíblicos, escritos pelo profeta Moisés, Deus escolhe um pastor de ovelhas, Abraão, para ser o patriarca de uma igreja que dura por gerações. Pois, a partir de Abraão, a igreja de Deus se torna conhecida e Seu nome é repassado de geração para geração. Abraão, Isaac, Jacó, José...
José era o filho predileto de Jacó, por isso seus irmãos sentiam inveja dele. Venderam-no como escravo aos mercadores egípcios, que o venderam a Potifár como escravo. Então Deus começou capacitá-lo e o transformou de escravo a governador do Egito numa época de grande seca e miséria.
Depois de muitos anos, os Hebreus, descendentes de José se tornaram escravos do Faraó, rei Egípcio que desconhecia a contribuição de José em anos anteriores. Portanto, Deus escolheu outro pastor de ovelhas para capacitá-lo a tirar o seu povo do Egito. Desta vez o escolhido foi Moisés.
Moisés estava no campo cuidando das ovelhas quando Deus falou-lhe dos Seus planos para o Seu povo, além disso, mencionou que Moisés havia sido o escolhido como instrumento do Senhor para libertar os Hebreus da escravidão no Egito. Moisés se disse incapacitado para realizar a missão confiada, mas Deus estava com ele. Como porta voz de um povo, Moisés foi criado no reino egípcio, mas nunca esqueceu suas origens. Então Deus o utilizou como instrumento de Sua fé e o capacitou para a missão que consolidou-se com a travessia do Mar Vermelho e do deserto.  
Outro pastor escolhido e capacitado por Deus foi o grande Rei Davi. Davi era o filho caçula de Jessé e foi escolhido por Deus para liderar a guerra contra os Filisteus. Os israelitas venceram após Davi matar o gigante Golias utilizando uma funda como arma de guerra.
A capacitação dos escolhidos continuou. Pois Deus escolheu um casal simples de Nazaré para serem os pais adotivos de Seu filho, Jesus Cristo, o Rei. José era um simples carpinteiro e noivo de Maria, uma virgem agraciada. Deus os escolheu e capacitou-lhes a receberem o Filho Dele em seu lar e educá-lo.
Jesus cresceu e iniciou o seu ministério na terra. Ele apresentou as boas novas do Reino de Deus na terra. Ensinou as pessoas a orarem, amarem e perdoarem umas as outras. Para ajudá-Lo na realização do Seu ministério ele escolheu seus discípulos. Ambos, homens simples, tais como cobradores de impostos e pescadores. Capacitou e transformou-lhes em pescadores de homens em todas as nações.
Diante das evidências explícitas nas escolhas e capacitações feitas por Deus, transformar homens simples em Patriarca, governador, rei, seio familiar do Seu filho, os discípulos do Seu filho, podemos concluir que realmente Deus não escolhe os capacitados, Ele capacita os escolhidos.

sábado, 7 de março de 2020

O POETA POPULAR


Patativa do Assaré
Cantou o nosso sertão
Fez versos de improviso
Com muita dedicação
Cuidou da nossa cultura
A melhor da região

Compôs a Triste Partida
Vaca Estrela e Boi Fubá
Fez viagem ao Sudeste
Abandonou seu lugar
Disse ao poeta acadêmico:
- Cante Lá Que Eu Canto Cá

Chorou a Morte de Nanã
Descasos denunciou
Por Prefeitura Sem Prefeito
Prisioneiro ficou
O Boi Zebu e As Formigas
Ele também comparou

Aos poderosos chefões
Dizendo ser necessária
Com camponês defendeu
A tal da Reforma Agrária
Defendeu o nordestino
Da situação precária

Balceiro e outros poemas
Também Ispinho e Fulô
Inspiração Nordestina
Livro de imenso valor
Aqui Tem Coisas também
Da cultura, defensor

Patativa do Assaré
Faz jus homenagear
Uma mente tão brilhante
Nascido no Ceará
Das terras dos Kariris
O poeta popular.

José Roberto
Campos Sales, 05 de março de 2020

quarta-feira, 4 de março de 2020

QUADRÃO PERGUNTADO


Disciplina favorita?
Eu gosto muito de inglês
Já aprendeu português?
Fala, leitura e escrita
Tem gastado muito a vista?
Se estou fazendo a lição
Vai perder sua audição?
Ficando surdo e calado
Iss’é quadrão perguntado
Iss’é responder quadrão

Seu forte é biologia?
Eu prefiro matemática
‘Tá gostando de gramática?
Não, gosto de geografia
Estuda sociologia?
Às vezes sim, outras não
Estudou religião?
Já estudei no passado
Iss’é quadrão perguntado
Iss’é responder quadrão

Espanhol, já ensinou?
Muitas aulas ministrava
Quais estratégias usava?
A leitura pra dispor
Sempre quis ser professor?
Por amor a profissão
Transmitiu sempre a lição?
Buscando aprendizado
Iss’é quadrão perguntado
Iss’é responder quadrão

Você gosta de escrever?
Conto, crônica e cordel
Tem cumprido seu papel?
Buscando sempre aprender
Pesquisa pra conhecer?
Pesquiso com atenção
Está cumprindo a missão?
Em prosa e verso rimado
Iss’é quadrão perguntado
Iss’é responder quadrão.

(José Roberto, ALB22/SPA13)