José Roberto Morais¹
Considerações iniciais
O termo parnasianismo se
originou da tradução de Parnasse
(Parnaso), morada mitológica dos poetas. No final da década de 1870 e anos 80
do século XIX prevalece a rejeição ao sentimentalismo romântico e a busca pela
criação de uma poesia que se orientasse pelo ideal da “arte pela arte”. Essa ideia de que a arte constitui um
exercício intelectual destinado ao prazer da contemplação foi proposto pela
revista Le Parnasse Contemporain e
pelos representantes franceses dessa tendência: Théophile Gautier, Leconte de
Lisle e Charles Baudelaire. No Brasil, o movimento recebeu boas-vindas nas
escolas de Direito e amplamente valorizado pela elite nacional, influenciando a
produção poética até 1922. A tríade parnasiana brasileira que tronou-se famosa
no seio literário é composta por Alberto de Oliveira, Olavo Bilac e Raimundo
Correia.
O
Príncipe do Poetas Brasileiros
Olavo Brás Martins dos
Guimarães Bilac nasceu em 16 de Dezembro de 1865 no Rio de Janeiro,
Brasil. Foi um jornalista e poeta brasileiro, membro fundador da Academia
Brasileira de Letras, autor do Hino à Bandeira Nacional Brasileira. Homenageado
com o título de Príncipe do poetas brasileiros, pela revista Fon-Fon através de
concurso. É considerado um dos mais importantes e populares poetas brasileiros.
Morreu em 28 de Dezembro de 1918 na sua cidade natalícia.
O
Encontro dos Amantes no Meio do Caminho
NEL MEZZO DEL CAMIN...
Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada
E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E alma de sonhos povoada eu tinha...
E paramos de súbito na estrada
Da vida: longos anos, presa à minha
A tua mão, a vista deslumbrada
Tive da luz que teu olhar continha.
Hoje segues de novo... Na partida
Nem o pranto os teus olhos umedece,
Nem te comove a dor da despedida.
E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E alma de sonhos povoada eu tinha...
E paramos de súbito na estrada
Da vida: longos anos, presa à minha
A tua mão, a vista deslumbrada
Tive da luz que teu olhar continha.
Hoje segues de novo... Na partida
Nem o pranto os teus olhos umedece,
Nem te comove a dor da despedida.
E eu, solitário, volto a face, e tremo,
Vendo o teu vulto que desaparece
Na extrema curva do caminho extremo.
Ao realizar a leitura do
poema, pode-se fazer algumas observações: iniciando pelo título, percebe-se que
está em língua latina, considerada uma língua culta, clássica. Além disso,
trata-se de um trecho de verso da Divina comédia do escritor italiano Dante
Alighieri. Ao observar a estrutura, nota-se uma preocupação da arte pela arte,
demostrada pela preferência pelo soneto: poema clássico formado por dois
quartetos (estrofe de quatro versos) e dois tercetos (estrofe de três versos).
Ao analisar as rimas apresentadas, percebe-se que a maioria são rimas ricas,
isto é, palavras de classes gramaticais diferentes, como estrada (substantivo)
e deslumbrada (adjetivo); minha, (pronome possessivo) e continha (verbo); tremo
(verbo) e extremo (adjetivo).
Outras características
parnasianas estão relacionadas ao tema abordado de forma impessoal, pois para
os poetas parnasianos é indispensável que os sentimentos fossem comunicados por
meio da forma pura e de expressões comedidas, compreendendo que a beleza reside
no equilíbrio e na serenidade. Já que a poesia parnasiana pretende ser
impassível e manifesta a atração por tempos (longos anos) e lugares remotos
(estrada da vida); restaura uma cultura clássica, erudita, que proporciona
enlevo, deslumbramento ao leitor (título em latim: nel mezzo del camin...); comedimento emocional e construção de
formas puras com simplicidade da beleza advinda de um esforço de mestres da
versificação (versos decassílabos); palavras bem escolhidas e arquitetadamente
organizadas comunicam com maior eficácia os sentimentos (preferência pelo ordem
inversa).
Algumas figuras de linguagem
enriquecem a mensagem transmitida nos versos. Na primeira estrofe, percebe-se a
repetição simétrica comunica a ideia do encontro dos amantes, que viviam emoções
idênticas. Ressalta-se que o encontro foi perfeito e oportuno, pois trouxe os
amantes estavam tristes e cansados, mas tinham sonhos na alma.
Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada
E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E alma de sonhos povoada eu tinha...
E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E alma de sonhos povoada eu tinha...
A segunda estrofe apresenta a união do casal. Para que
vivam esse amor iluminado por muitos anos juntos, revelando a felicidade
amorosa vivida pelos amantes.
E paramos de súbito na estrada
Da vida: longos anos, presa à minha
A tua mão, a vista deslumbrada
Tive da luz que teu olhar continha.
Da vida: longos anos, presa à minha
A tua mão, a vista deslumbrada
Tive da luz que teu olhar continha.
Na estrofe seguinte, os
amantes são separados definitivamente devido à morte da mulher, sugerida pela
ausência de emoção no momento da partida.
Hoje segues de novo... Na partida
Nem o pranto os teus olhos umedece,
Nem te comove a dor da despedida.
Nem o pranto os teus olhos umedece,
Nem te comove a dor da despedida.
Na última estrofe, “E eu, solitário, volto a face, e tremo, / Vendo o
teu vulto que desaparece / Na extrema curva do caminho extremo.”, mostra-se um
amante resignado, triste e solitário, como alguém que treme e compreende a
morte, implícita pela expressão “extrema curva do caminho extremo”, que metaforicamente
faz referência ao fim da vida.
Nota 1: Professor e escritor; Graduado em Letras pela URCA; Especialista em Metodologia do Ensino de Inglês e Português pela UCAM, e
Docência do Ensino Superior pela FAIARA.
Referências
BILAC,
Olavo. In Obra reunida (org. Alexei Bueno). Rio de Janeiro: Nova Aguilar,
1996, p.155.
MOISÉS,
Maussad. História da Literatura Brasileira: realismo e simbolismo. Vol
II. 5ª edição. São Paulo: Editora Cultrix, 2001.
TORRALVO,
Izetti Fragata. Linguagem em movimento: literatura, gramática, redação: ensino
médio, vol 2 / Izetti Fragata Torralvo, Carlos Cortez Minchillo. – São Paulo:
FTD, 2008.
Nel Mezzo Del Camin... é um belíssimo soneto escrito pelo príncipe dos poetas brasileiros, Olavo Bilac. Representante da escola parnasiana e um dos melhores da literatura brasileira.
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