terça-feira, 28 de março de 2017

FILHO DE GATO, É GATINHO!


Numa cidade pacata do interior cearense, aconteceu um assassinato de um garoto de apenas doze anos de idade. Segundo comentários de pessoas conhecidas, tratava-se um garoto envolvido com usuários e traficantes de drogas.
Na escola onde trabalho, vários colegas comentaram o fato acontecido com julgamentos irreflexivos e corriqueiros, do tipo: “se ele estivesse na escola, isso não teria acontecido”, “isso sempre acontece com quem mergulha no mundo das drogas”, “traficante sempre acaba preso ou morto” e outros comentários insignificativos.
Porém, nenhum desses comentários foi mais irrelevante do que o comentário do padre da paróquia local durante a realização de uma missa em um sítio da cidade vizinha. Durante a celebração, o “respeitável” padre, após algumas leituras reflexivas falando sobre os bons caminhos e os caminhos ruins, mencionou o assassinato, recém-ocorrido, e questionou se os fiéis ali presentes ouviram o noticiário pela rádio da cidade, o veículo informativo mais presente naquele sítio.
Ao ouvirem o questionamento do religioso, vários fiéis se manifestaram. Alguns comentaram que foi um crime bárbaro, outros afirmaram que isso sempre acontece aos criminosos e traficantes, poucos disseram tratar-se de uma criança que teria uma vida a ser vivida pela frente que foi interrompida por causa das drogas, seguiram outros murmúrios incompreensíveis etc.
Quando os fiéis calaram e voltaram sua atenção ao religioso, esse utilizou um provérbio conhecido ao expor sua opinião e disse:
- Irmãos e irmãs, esse garoto já havia roubado várias lojas e pessoas conhecidas, afinal foi isso que ele aprendeu, pois “filho de gato, é gatinho”.
O religioso nem sequer mencionou que o garoto falecido perdeu sua mãe ainda bebê e foi abandonado pelo pai alcoólatra.
A celebração terminou, mas aquelas palavras continuaram martelando no meu cérebro, então me pus a refletir: “Se um religioso, que diz guiar o rebanho do Senhor ao liderar a Igreja Romana numa cidade, apresenta um julgamento tão severo sobre um ser humano, imagine a sociedade alienada em que vivemos. Além disso, a Igreja como representante do Salvador na terra deveria acolher o ser humano que desviou-se e perdoá-lo setenta vezes sete se necessário. Pois foi isso que Cristo ensinou: Amar uns aos outros como Ele nos amou. Mas como está registrado nos livros que compõem a Bíblia Sagrada, foi essa mesma Igreja Romana que acusou Jesus Cristo de traição ao Império Romano e influenciou Pôncio Pilatos e Herodes a executarem em morte de cruz o Rei dos Judeus. Portanto, essa atitude justifica a opinião do religioso sobre o assassinato que vitimou o garoto de doze anos numa cidade do interior cearense: “Filho de gato, é gatinho”.

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