Numa
cidade pacata do interior cearense, aconteceu um assassinato de um
garoto de apenas doze anos de idade. Segundo comentários de pessoas
conhecidas, tratava-se um garoto envolvido com usuários e
traficantes de drogas.
Na
escola onde trabalho, vários colegas comentaram o fato acontecido
com julgamentos irreflexivos e corriqueiros, do tipo: “se ele
estivesse na escola, isso não teria acontecido”, “isso sempre
acontece com quem mergulha no mundo das drogas”, “traficante
sempre acaba preso ou morto” e outros comentários
insignificativos.
Porém,
nenhum desses comentários foi mais irrelevante do que o comentário
do padre da paróquia local durante a realização de uma missa em um
sítio da cidade vizinha. Durante a celebração, o “respeitável”
padre, após algumas leituras reflexivas falando sobre os bons
caminhos e os caminhos ruins, mencionou o assassinato,
recém-ocorrido, e questionou se os fiéis ali presentes ouviram o
noticiário pela rádio da cidade, o veículo informativo mais
presente naquele sítio.
Ao
ouvirem o questionamento do religioso, vários fiéis se
manifestaram. Alguns comentaram que foi um crime bárbaro, outros
afirmaram que isso sempre acontece aos criminosos e traficantes,
poucos disseram tratar-se de uma criança que teria uma vida a ser
vivida pela frente que foi interrompida por causa das drogas,
seguiram outros murmúrios incompreensíveis etc.
Quando
os fiéis calaram e voltaram sua atenção ao religioso, esse
utilizou um provérbio conhecido ao expor sua opinião e disse:
-
Irmãos e irmãs, esse garoto já havia roubado várias lojas e
pessoas conhecidas, afinal foi isso que ele aprendeu, pois “filho
de gato, é gatinho”.
O
religioso nem sequer mencionou que o garoto falecido perdeu sua mãe
ainda bebê e foi abandonado pelo pai alcoólatra.
A
celebração terminou, mas aquelas palavras continuaram martelando no
meu cérebro, então me pus a refletir: “Se um religioso, que diz
guiar o rebanho do Senhor ao liderar a Igreja Romana numa cidade,
apresenta um julgamento tão severo sobre um ser humano, imagine a
sociedade alienada em que vivemos. Além disso, a Igreja como
representante do Salvador na terra deveria acolher o ser humano que
desviou-se e perdoá-lo setenta
vezes sete se necessário.
Pois foi isso que Cristo ensinou: Amar uns aos outros como Ele nos
amou. Mas como está registrado nos livros que compõem a Bíblia
Sagrada, foi essa mesma Igreja Romana que acusou Jesus Cristo de
traição ao Império Romano e influenciou Pôncio Pilatos e Herodes
a executarem em morte de cruz o Rei dos Judeus. Portanto, essa
atitude justifica a opinião do religioso sobre o assassinato que
vitimou o garoto de doze anos numa cidade do interior cearense:
“Filho de gato, é gatinho”.
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