quarta-feira, 3 de julho de 2024

RACHEL - UMA NOITE NA FAZENDA

LITERATURA CEARENSE 


Era mês de julho de 1929. À noite, um candeeiro ilumina o quartinho dos fundos no casarão da Fazenda Não Me Deixes. Rachel de Queiroz, a jovem professora, está em férias na casa dos pais. Concentrada, rabiscando papéis distante dos aposentos para não atrapalhar o sono de Dona Clotilde e “Seu” Daniel. 

Dois anos antes, usando o pseudônimo Rita de Queluz, ela havia começado seus trabalhos de produção literária ao escrever uma carta para o jornal “O Ceará”, ironizando o concurso de Rainha dos Estudantes, promovido pelo periódico. Sua carta fez muito sucesso. Convidada a ser colaboradora do jornal, a professora diplomada aos quinze anos em 1925, começou organizar a página literária na qual publicou o folhetim “História de um Nome”.

Dona Clotilde levanta-se na madrugada e percebe que a luz do candeeiro ainda ilumina o quartinho dos fundos, espaço favorito da filha quando criança. Vai até lá e encontra Rachel cochilando, sentada na cadeira e a cabeça sobre um caderno. Ela acorda a moça que despertada inesperadamente, questiona:

- Mamãe! Que horas são?

- Já são duas horas da madrugada, filha. Por que dormiu aqui?

- Estava escrevendo e acabei pegando no sono. Volte a dormir, mamãe. Eu vou já também. Mas preciso concluir um capítulo do “quase” romance de Conceição e Vicente.

Dona Clotilde sai e deixa a filha que logo volta a escrever.

Esse texto que a professora escreve apresenta um quadro social dramático e realista da luta do povo cearense contra a devastadora seca que iniciou em 1915 e trouxe muita fome e miséria à população do interior do estado de Iracema, a virgem dos lábios de mel. Vindo a ser intitulado “O Quinze”, narra o êxodo de trabalhadores e fazendeiros das fazendas em Logradouros e Quixadá que partem em busca de sobrevivência na capital cearense.

Ao amanhecer o dia, com o cavalo selado, Rachel monta o equino e parte em passeio pela Fazenda Não Me Deixes. Observa o gado pastando, escuta a serenata matinal dos passarinhos, e sonha em um dia vindouro, quem sabe, ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras.


MORAIS, José Roberto. Rachel de Queiroz. In Revista Sarau. Vol 4, Nº 9, julho/agosto 2024 (p.13) ISSN 2965.6192     

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