domingo, 29 de setembro de 2019

EDGAR ALLAN POE: O PIONEIRO DA FICÇÃO DE DETETIVE


Poe foi um escritor capaz de retratar temas e situações
que não conseguem deixar o leitor imparcial”.
(PERNA & LAITANO, 2009)

Edgar Allan Poe (1809-1849) - poeta americano, escritor de contos, crítico literário e editor, que é mais conhecido por suas estórias de raciocínio, fantásticas estórias de horror e estórias de detetive que fundam o gênero. Poe, cuja vida pessoal nebulosa é uma lenda virtual, considerava-se primordialmente um poeta. Nascido em Boston em 1809, teve uma vida repleta de acontecimentos fantásticos, misteriosos e tristes, que certamente influenciaram nas temáticas de seus textos. O escritor, já aos três anos de idade, sofre com a perda dos pais e está entregue aos cuidados de um grupo de atores. Autor do famoso poema “O Corvo”. Escreveu contos sobre mistério, inaugurando um novo gênero e estilo na literatura.
Os temas sombrios presentes em suas obras literárias também marcaram sua biografia. As tragédias pessoais e a convicção sobre o próprio brilhantismo tornaram sua vida tão fascinante quanto suas criações e essencial para compreendê-las, segundo Fabra (2013).
Poe nasceu em Boston, nos Estados Unidos, no dia 19 de janeiro de 1809. Filho dos atores de teatro, David Poe Jr que abandonou a família em 1810 e de Elizabeth Arnold que morreu após o nascimento de Rosalie (irmã mais nova de Poe). Segundo Baudelaire (2003, p.4),

David Poe Jr, padre de Edgar e hijo del general, se enamoró perdidamente de una atriz inglesa, Elizabeth Arnold, célebre por su beleza; se fugó uy se casó con ella. Para unir más íntimamente su destino al de ella, se hizo actor y apareció con su mujer en diferentes teatros, en las principales ciudades de la Unión.[1]


Ao ficar órfão de mãe e ter a família abandonada pelo pai. Poe foi adotado informalmente por família de ricos comerciantes (mercador de tabaco) de Baltimore, na Virgínia, que lhe proporcionaram uma educação de qualidade, dos melhores professores da época, segundo Frazão (2018).
Edgar A. Poe ingressou na Universidade de Virgínia. Era inquieto e indisciplinado. Nessa época passava a maior parte do tempo envolvido com mulheres e bebidas que tornou endividado. Foi expulso por causa desse estilo aventureiro e boêmio.
Baudelaire (2003, p.5) menciona que

la miséria le hizo ser soldado una temporada, y es de suponer que empleó los pesados ocios de la vida de guarnición en preparar los materiais de sus futuras composiciones, composiciones extrañas que parecen haber sido creadas para demonstrarnos que la singularidad es una de las partes integrantes de lo Bello. [2]


Em 1829 entrou para a carreira militar, na Academia de West Point, mas acabou expulso por indisciplina. Perdeu a mesada de seu tutor e passou a escrever para sobreviver, tornou-se editor de uma revista de Richmond. Segundo Kennedy (2001), o Sr. Allan frequentemente reclamava que seu filho adotivo (Poe) não demonstrava nenhum afeto nem gratidão para com ele.
Depois, foi morar com sua tia, viúva, e sua filha Virgínia Clemm. Em 1836 casa-se com sua prima, Virgínia, de apenas 13 anos de idade. Ela era “uma menina linda e encantadora, de um caráter amável e heróico, mas pobre” (BANDELAIRE, 2003, p.6).  Nessa época, seu projeto “Os contos de Folio Club”, composto por poemas e contos, é aceito para ser publicado em um único volume.
Passou por dificuldades financeiras depois que perdeu o emprego. Elas foram superadas ao vencer os concursos de conto e poesia, promovidos pela revista “Southern Literary Messager, segundo Dilva Frazão (2018). Sem emprego nem renda, Poe sobrevive com alguns poemas publicados em jornais e revistas. Em 1833, ganha um concurso literário do The Saturday Visiter com o conto “Manuscrito encontrado numa garrafa”.
Após convite para dirigir a revista, durante dois anos esteve à frente do periódico, onde publicava contos, poemas e artigos de crítica literária, menciona Frazão (2018). Já nas palavras de Bandelaire (2003, p.6),

Edgar Allan Poe, con un maravilloso ardor, asombró a su público con una serie de composiciones de un nuevo género y con artículos críticos cuya viveza, claridad y severidad razonadas estaban hechas realmente para atraer las miradas. Aquellos artículos se ocupaban de libros de todo género, y la sólida cultura que el joven había adquirido le sirvió mucho.[3]


Viciado na bebida perdeu seu emprego. O motivo desse rompimento foram os ataques de hipocondria e as crises alcoólicas do poeta, acidentes característicos que escureciam seu céu espiritual, como essas nuvens tristes que de repente dão a paisagem um ar mais romântico de melancolia em aparência irreparável, segundo Bandelaire (2013). Além disso, Dilva Frazão (2018) acrescenta que naquela época sua esposa adoeceu e Poe começou a produzir como free-lancer, mas não obteve grandes resultados, afundou-se na bebida, e a morte da mulher agravou-lhe o problema.
Poe interessou-se pela literatura. Editou, dirigiu e colaborou em revistas de forma brilhante, difundindo artigos críticos, filosóficos e contos. Segundo Ramos (2015 p.1), “sua carreira de escritor começou pouco depois de abandonar a Universidade, com a publicação de uma coleção anônima de poemas denominada, Tomerlane and Other Poems -1827 (Tomerlane e Outros Poemas)”. Depois, seguiram outras publicações: Al Aaraaf, Tamerlane, and Minor Poems (Al Aaraaf, Tamerlane e Poemas Menores) em 1829; Tales of the Grotesque and Arabesque (Contos do grotesco e do arabesco) em 1830.
Em 1841, Poe lançou o novo gênero de ficção de detetive com "The Murders in the Rue Morgue" (Os assassinatos na Rua Morgue). Suas inovações tornaram-lhe conhecido como "o Pai do Conto de Detetive". Um escritor em crescimento, ele ganhou um prêmio literário em 1843 por "The Gold Bug," (O Bug de Ouro) um conto cheio de suspense códigos secretos e caça ao tesouro.
O conto “The Black Cat” (O Gato Preto) de Edgar Allan Poe foi publicado em 1843 no The Saturday Evening Post. Nesse, o narrador, um amante de animal, torna-se um alcoólatra que começa abusar de sua esposa e do gato preto, Pluto. Pelo fim macabro da estória, o narrador observa sua própria loucura ao matar a esposa, um relato do crime de seu gato preto a polícia. O conto foi mais tarde incluído em 1845 na coleção de “Contos de Edgar Allan Poe”.
O poema de Poe "The Raven" (O Corvo) publicado em 1845 no New York Evening Mirror, é considerado entre os melhores e mais conhecidos poemas na Literatura Americana e um dos melhores da carreira de Poe. Um narrador desconhecido lamenta a perda de seu grande amor, Leonora, e é visitado por um corvo que insiste em repetir a expressão: “nunca mais”. No trabalho, que consiste de 18 estrofes de seis versos, Poe explorou alguns de seus temas comuns – morte e perda.
Segundo Dilva Frazão (2018, p.1)

Edgar Allan Poe deixou poemas, contos, romance, temas policiais e de horror. Muitas de suas obras exploram a temática do sofrimento causado pela morte. O poeta acreditava que nada seria mais romântico que um poema sobre a morte de uma mulher bonita. É considerado o criador do conto policial, seus poemas mergulham na tristeza e as narrativas em temas de horror. Suas obras foram um marco para a literatura norte-americana contemporânea, com destaque para "Contos do Grotesco e Arabesco", publicado na França com o título de "Histórias Extraordinárias" (1837), contos que influenciaram diversas gerações de escritores de livros de suspense e terror, e os poemas, “O Corvo” (1845) e “Annabel Lee” (1849).


Entre suas obras destaca-se também: “A Queda da Casa dos Usher” (1839), “Os Crimes da Rua Morgue” (1841), “A Máscara da Morte Escarlate” (1842), “O Coração Delator” (1843), “O Gato Preto” (1843) e “O Barril de Amontilhado” (1846). Edgar Allan Poe faleceu numa taberna, em Baltimore, em decorrência de doenças provocadas pelo álcool, no dia 07 de outubro de 1849. Seu enterro ocorre no dia 08 de outubro de 1949, sem ostentação.
Poe tem tido sua vida biografada e a obra estudada em todo o mundo. Surgem críticos literários que admiram sua obra em diferentes países. Seus contos tem encantado estudiosos e conquistado leitores, pois ele é um escritor que ainda continua vivo no âmbito da literatura norte-americana, tanto pela grandiosidade de suas obras, quanto pelas influências que elas deixaram na literatura mundial, segundo Carmo (2014). Poe é considerado um dos grandes escritores da literatura mundial, não apenas pela variedade, mas também pela extensão de sua produção literária, até mesmo Paul Valéry o aclamou como o mestre da imaginação material (TODOROV, 2004).
D. H. Lawrence foi, entre tantos outros, um dos críticos da obra de Poe. Segundo ele, os contos góticos de Poe seriam evidência de que sua mente estava se deteriorando. Ele foi um escritor capaz de retratar temas e situações que não conseguem deixar o leitor imparcial, que criam uma gama imensa de imagens, sejam elas reais ou não, produtos da loucura ou da sanidade absoluta e que atingem diretamente o seu destinatário, tornando-o cúmplice daqueles crimes, daqueles desvarios (LAWRENCE, 1977 apud PERNA & LAITANO, 2009).
No imaginário coletivo e na cultura popular, Edgar Allan Poe é o escritor do sobrenatural, e a sua vida confunde-se com a dos seus narradores anónimos atormentados por visões fantasmagóricas que não conseguem interpretar. Além disso, Poe é considerado um dos precursores da literatura de ficção científica e fantástica moderna.

Notas:
1. David Poe Jr, pai de Edgar e filho do general, apaixonou-se perdidamente por uma atriz inglesa, Elizabeth Arnold, famosa por sua beleza; ele fugiu e se casou com ela. Para unir seu destino mais intimamente ao dela, ele se tornou ator e apareceu com sua esposa em diferentes teatros, nas principais cidades da União.” (Nossa Tradução - NT)
2.  A miséria fez dele um soldado por um período, e supõe-se que ele começou os pesados ​​ócios da vida da guarnição em preparar os materiais de suas futuras composições, composições estranhas que parecem ter sido criadas para nos mostrar que a singularidade é uma das partes integrantes do belo.” (NT)
3. Edgar Allan Poe, com um ardor maravilhoso, surpreendeu seu público com uma série de composições de um novo gênero e com artigos críticos cujas razões de raciocínio, clareza e severidade foram realmente feitas para atrair os olhares. Aqueles artigos lidavam com livros de todo gênero, e a sólida cultura que o jovem adquirira lhe servia bem.” (NT)


REFERÊNCIAS

BANDELAIRE, Charles. Edgar Allan Poe: su vida y sus obras. Biblioteca virtual universal. 2003.

DUARTE, Bruno Marques. H.P. Lovecraft na história da literatura fantástica dos EUA. FURG, 2013. Disponível em: http://ebooks.pucrs.br/edipucrs/Ebooks/Web/x-sihl/media/comunicacao-4.pdf Acesso em 21 de janeiro de 2019.

FARBA, Jordi Sierra i. Poe: a vida brilhante e sombria de um gênio / Jordi Sierra i Farba; ilustrações Alberto Vásquez; tradução José Rubens Siqueira. – 1.ed. – São Paulo: Ática, 2013.  

FRAZÃO, Dilva. Biografia de Edgar Allan Poe. Atualizado em 29 de novembro de 2018. Disponível em: https://www.ebiografia.com/edgar_allan_poe/ Acesso em novembro de 2018.

PERNA, Cristina Lopes; LAITANO, Paloma Esteves. O clássico Edgar Allan Poe. Letras de Hoje, Porto Alegre, v. 44, n. 2, p. 7-10, abr./jun. 2009.

RAMOS, Thaciane Rollemberg. Edgar Allan Poe. UNIABEU, 2015. (Graduada em Letras - Literatura e Língua Portuguesa). Disponível em:

SILVA, José Roberto de Morais. O fantástico nos contos "Berenice, Eleonora e Morella" de Edgar Allan Poe / José Roberto de Morais Silva - 2019. Monografia (graduação) - Universidade Estadual do Piauí - UESPI, Licenciatura Plena em Letras/Inglês, 2019. Orientador Prof. Me. Hélder Regino da Costa Silva. (pp.15-19)

TELES, Hanny F. P; TELES, Luciano E. C. A literatura fantástica de Edgar Allan Poe: histórias extraordinárias. Centro Universitário Nilton Lins, 2011.
  
TELES, Hanny Francy Passos. A literatura fantástica de Edgar Allan Poe. Publicado em 01 de Agosto de 2011. Disponível em:



Um comentário:

  1. Estudar Edgar Allan Poe, é uma oportunidade enriquecedora para os estudos da literatura universal. E compreendê-lo, a luz da literatura fantástica de Todorov, foi uma tarefa fascinante que o curso de Letras/Inglês me possibilitou, enquanto leitor, admirador e agora crítico literário da obra do Pioneiro dos Contos de Detetive e um dos melhores escritores da literatura universal, junto a Willian Shakespeare, Charles Dickens, Jane Austen, George Orwell e outros...

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