quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

A SANTIDADE DA MORTE


A santidade da morte
encheu de paz teu semblante,
e eu já não podia ver-te
de minha memória diante,
mas no sossego inerte
e glacial daquele instante.
No caixão escasso,
de ceras à luz fátua,
tinha teu rosto ambíguo
quietude augusta de estatua
em um sarcófago antigo.
Quietude como eu não sei o que
de doce e meditativo;
majestade do que eu era;
repouso definitivo
de quem já sabe o porquê.
Placidez, honra, submissa
à lei; e na gentil
boca breve, um sorriso
enigmático, sutil,
iluminando indecisa
a cor da pele de marfim.
A pesar de tanta pena
como desde tanto sinto,
aquela visão me enche
de suave lembrança
e unção..., como quando sonha
o corte de algum convento
numa tarde serena...

Tradução: José Roberto Morais
NERVO, Amado. La santidad de la muerte.
In “Antologia poética”. Ediciones del Sur.
Córdoba. Argentina. Octubre de 2003.

Nenhum comentário:

Postar um comentário