Reviver o passado através de
recordações é algo comum ao poeta. Este costuma relatar, em versos ou crônicas,
momentos que foram marcantes na sua vida. Nesta cronicazinha, relembro os dias
vividos na casa de meu avô.
A casa que vovô morou,
situada no Sítio Tanquinho, zona rural de Araripe-CE, é uma relíquia de
momentos históricos familiares. A casa era enorme. Tinha na frente um alpendre.
Ao entrar, seguia-se a varanda (sala de estar), ladeada pelos quartos, o
corredor, a sala de jantar e a cozinha separadamente. A chegada à sala de
jantar é marcada por uma miniescada devido às irregularidades do terreno.
Na varanda havia uma mesa
rodeada por algumas cadeiras, os quadros de “santos” na parede, tornos para
armar as redes, duas janelas que davam uma claridade ao ambiente receptativo da
casa (uma na frente e outra no lado do leste) e o quarto ao oeste. Este quarto
da varanda servia apenas para guardar as ferramentas de trabalho (enxadas,
enxadecos, foices, machados, cavadeiras, cavadores, facões, ciscadores, braças...).
Seguindo pelo corredor, havia dois quartos (o aposento de vovô ao leste e dos
hóspedes ao oeste). Depois, chegava-se à sala onde estava a mesa de jantar, o
armário na parede, uma janela para o ‘poente” e um quarto ao leste. Nesse
quarto ficavam os equipamentos de vaquejar o gado (gibão, perneiras, selas,
cabeçadas, botas, chocalhos, cordas, cabrestos...). Após a sala, havia
separadamente a cozinha com um fogãozinho a lenha, o guarda louças e uma
mesinha, além do pé-de-panelas e um quartinho de despensa.
Para alcançar o alpendre,
tínhamos que subir os degraus nos lados ou na frente. No alpendre ficava o
banco de madeira onde brincávamos damas e sentávamos para contar os carros que
passavam na pista (rodovia) que fica cerca de 500 m distante ou atirar pedras
com uma baladeira (estilingue) nos viajantes que passavam na estrada.
Lembro-me que na infância
quando morávamos com vovô durante os meses de outubro, novembro e dezembro –
período em que a família vinha morar no tanquinho por falta d’água na serra –
eu, então pequeno, ia todos os dias ao quarto de vovô mostrá-lo meus
cavalos-de-pau. Depois saia e ia brincar com meu primo na casa vizinha, ao
oeste. Brincávamos de bila, carrinho, boi, bola, esconde-esconde, policial e
bandido etc.
Hoje moramos em frente à
casa de vovô. Por isso, há momentos que ao sentar e observar a casa que morei
na infância, sinto uma saudade daqueles dias em que os momentos de brincadeiras
eram a única ocupação durante o dia na casa de vovô. E à noite, a novela
“Chiquititas” nos entretia antes de irmos dormir para sonharmos com novas
travessuras para o dia vindouro na casa de vovô, que se tornou a Casa da
Saudade.
José Roberto, ALB22/SPA13
Nenhum comentário:
Postar um comentário