quarta-feira, 26 de maio de 2021

A CASA DA SAUDADE

Reviver o passado através de recordações é algo comum ao poeta. Este costuma relatar, em versos ou crônicas, momentos que foram marcantes na sua vida. Nesta cronicazinha, relembro os dias vividos na casa de meu avô.

A casa que vovô morou, situada no Sítio Tanquinho, zona rural de Araripe-CE, é uma relíquia de momentos históricos familiares. A casa era enorme. Tinha na frente um alpendre. Ao entrar, seguia-se a varanda (sala de estar), ladeada pelos quartos, o corredor, a sala de jantar e a cozinha separadamente. A chegada à sala de jantar é marcada por uma miniescada devido às irregularidades do terreno.

Na varanda havia uma mesa rodeada por algumas cadeiras, os quadros de “santos” na parede, tornos para armar as redes, duas janelas que davam uma claridade ao ambiente receptativo da casa (uma na frente e outra no lado do leste) e o quarto ao oeste. Este quarto da varanda servia apenas para guardar as ferramentas de trabalho (enxadas, enxadecos, foices, machados, cavadeiras, cavadores, facões, ciscadores, braças...). Seguindo pelo corredor, havia dois quartos (o aposento de vovô ao leste e dos hóspedes ao oeste). Depois, chegava-se à sala onde estava a mesa de jantar, o armário na parede, uma janela para o ‘poente” e um quarto ao leste. Nesse quarto ficavam os equipamentos de vaquejar o gado (gibão, perneiras, selas, cabeçadas, botas, chocalhos, cordas, cabrestos...). Após a sala, havia separadamente a cozinha com um fogãozinho a lenha, o guarda louças e uma mesinha, além do pé-de-panelas e um quartinho de despensa.

Para alcançar o alpendre, tínhamos que subir os degraus nos lados ou na frente. No alpendre ficava o banco de madeira onde brincávamos damas e sentávamos para contar os carros que passavam na pista (rodovia) que fica cerca de 500 m distante ou atirar pedras com uma baladeira (estilingue) nos viajantes que passavam na estrada.     

Lembro-me que na infância quando morávamos com vovô durante os meses de outubro, novembro e dezembro – período em que a família vinha morar no tanquinho por falta d’água na serra – eu, então pequeno, ia todos os dias ao quarto de vovô mostrá-lo meus cavalos-de-pau. Depois saia e ia brincar com meu primo na casa vizinha, ao oeste. Brincávamos de bila, carrinho, boi, bola, esconde-esconde, policial e bandido etc.

Hoje moramos em frente à casa de vovô. Por isso, há momentos que ao sentar e observar a casa que morei na infância, sinto uma saudade daqueles dias em que os momentos de brincadeiras eram a única ocupação durante o dia na casa de vovô. E à noite, a novela “Chiquititas” nos entretia antes de irmos dormir para sonharmos com novas travessuras para o dia vindouro na casa de vovô, que se tornou a Casa da Saudade.

José Roberto, ALB22/SPA13

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