RESENHA
O amor bucólico foi um dos principais temas
abordado pelos poetas árcades. A preferência pelo campo como lugar ameno para
celebrar o amor, foi a escolha dos poetas que abandonaram a cidade (fugere urbem) para viver os amores do
campo. Os poetas tornaram-se pastores e suas musas, pastoras.
Nesse contexto campestre, onde os pássaros,
ventos, flores, rios impulsionam o amor entre os amantes, surge a mais
representativa obra do arcadismo brasileiro: Marília de Dirceu do poeta Tomás
Antônio Gonzaga. Dirceu era o pseudônimo de Gonzaga que fora noivo de Maria
Doroteia, Marília.
Impossibilitado de viver seu amor com a moça,
por ser quarenta anos mais velho que ela, Gonzaga dedicou-lhe suas liras
amorosas não intituladas, apenas numeradas em algarismos romanos. Essas liras são
caracterizadas pelo amor platônico e bucólico nutrido pelo pastor de ovelhas e
dedicadas a sua amante. O pastor sofre por causa da ausência da amada que não o
acompanha nos passeios no campo.
“Acaso são estes
os sítios formosos
Aonde passava os
anos gostosos?
São estes os
prados aonde brincava,
Enquanto passava o
gordo rebanho...”
A separação do casal forçada pelos pais da moça
impossibilita ambos de viver esse amor, porém o desejo de estar com amada é tão
intenso, que ele questiona se após a morte surgirá a sorte de serem enterrados na
mesma terra.
“Depois de nos
ferir a mão da morte,
Ou seja neste
monte, ou noutra serra,
Nossos corpos
terão, terão a sorte
De consumir os
dois a mesma terra”
A beleza de Marília encanta Dirceu. Ele a
compara com elementos sagrados e naturais.
“Os teus olhos
espalham luz divina,
A quem a luz do
Sol em vão se atreve:
Papoula, ou rosa
delicada, e fina,
Te cobre as faces,
que são cor de neve.
Os teus cabelos
são uns fios d’ouro;
Teu lindo corpo
bálsamos vapora.
Ah! Não, não fez o
Céu, gentil Pastora,
Para glória de
Amor igual tesouro.”
Ao descrever a beleza de sua amada, Dirceu
observa os detalhes angelicais de sua querida Pastora. As metáforas são
utilizadas para enriquecer a linguagem e elevar a beleza que emana do seu ser;
simbolizada pela simplicidade da rosa e jasmim, contrastando com a preciosidade
do rubi e do marfim.
“Na sua face
mimosa,
Marília, estão
misturadas
Purpúreas folhas
de rosa,
Brancas folhas de
jasmim.
Dos rubis mais
preciosos
Os seus beiços são
formados;
Os seus dentes
delicados
São pedaços de
marfim.”
Poder-se-ia citar inúmeras estrofes e comentá-las para o leitor, porém esse não é o objetivo desse texto, pois pretende-se apenas apresentar um amor bucólico cantado pelo pastor Dirceu dedicado à sua amada Marília. Além disso, ressalta-se que essa obra é uma das mais relevantes da literatura nacional.
MORAIS, José Roberto. Fantástico Mundo da Leitura. José Roberto Morais. Pará de Minas, MG: VirtualBooks Editora, Publicação 2022. E-book formato PDF (p.26-28)
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