quarta-feira, 12 de julho de 2023

UM AMOR BUCÓLICO

RESENHA

O amor bucólico foi um dos principais temas abordado pelos poetas árcades. A preferência pelo campo como lugar ameno para celebrar o amor, foi a escolha dos poetas que abandonaram a cidade (fugere urbem) para viver os amores do campo. Os poetas tornaram-se pastores e suas musas, pastoras.

Nesse contexto campestre, onde os pássaros, ventos, flores, rios impulsionam o amor entre os amantes, surge a mais representativa obra do arcadismo brasileiro: Marília de Dirceu do poeta Tomás Antônio Gonzaga. Dirceu era o pseudônimo de Gonzaga que fora noivo de Maria Doroteia, Marília.  

Impossibilitado de viver seu amor com a moça, por ser quarenta anos mais velho que ela, Gonzaga dedicou-lhe suas liras amorosas não intituladas, apenas numeradas em algarismos romanos. Essas liras são caracterizadas pelo amor platônico e bucólico nutrido pelo pastor de ovelhas e dedicadas a sua amante. O pastor sofre por causa da ausência da amada que não o acompanha nos passeios no campo.

 

“Acaso são estes os sítios formosos

Aonde passava os anos gostosos?

São estes os prados aonde brincava,

Enquanto passava o gordo rebanho...”

 

A separação do casal forçada pelos pais da moça impossibilita ambos de viver esse amor, porém o desejo de estar com amada é tão intenso, que ele questiona se após a morte surgirá a sorte de serem enterrados na mesma terra.

 

“Depois de nos ferir a mão da morte,

Ou seja neste monte, ou noutra serra,

Nossos corpos terão, terão a sorte

De consumir os dois a mesma terra”

 

A beleza de Marília encanta Dirceu. Ele a compara com elementos sagrados e naturais.

 

“Os teus olhos espalham luz divina,

A quem a luz do Sol em vão se atreve:

Papoula, ou rosa delicada, e fina,

Te cobre as faces, que são cor de neve.

Os teus cabelos são uns fios d’ouro;

Teu lindo corpo bálsamos vapora.

Ah! Não, não fez o Céu, gentil Pastora,

Para glória de Amor igual tesouro.”

 

Ao descrever a beleza de sua amada, Dirceu observa os detalhes angelicais de sua querida Pastora. As metáforas são utilizadas para enriquecer a linguagem e elevar a beleza que emana do seu ser; simbolizada pela simplicidade da rosa e jasmim, contrastando com a preciosidade do rubi e do marfim.

 

“Na sua face mimosa,

Marília, estão misturadas

Purpúreas folhas de rosa,

Brancas folhas de jasmim.

Dos rubis mais preciosos

Os seus beiços são formados;

Os seus dentes delicados

São pedaços de marfim.”

 

Poder-se-ia citar inúmeras estrofes e comentá-las para o leitor, porém esse não é o objetivo desse texto, pois pretende-se apenas apresentar um amor bucólico cantado pelo pastor Dirceu dedicado à sua amada Marília. Além disso, ressalta-se que essa obra é uma das mais relevantes da literatura nacional.


MORAIS, José Roberto. Fantástico Mundo da Leitura. José Roberto Morais. Pará de Minas, MG: VirtualBooks Editora, Publicação 2022. E-book formato PDF (p.26-28)

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